Descrição de chapéu Oscar

'Pantera Negra' tem ambição de provar que diversidade importa

Longa é primeiro blockbuster predominantemente afro-americano da Marvel

 
RODRIGO SALEM
Los Angeles

"É como nos esportes, sabe?",  diz o cineasta Ryan  Coogler ("Creed"), com seu sotaque típico de Bay Area, região que cerca a baía de San Francisco, onde cresceu. "No passado, times de beisebol e basquete não aceitavam negros, mas os empresários notaram que poderiam atrair mais público com esses jogadores. É o mesmo com o cinema. Tudo tem a ver com dinheiro."

Coogler, 31, um dos mais importantes diretores afro-americanos da nova geração, espera que "Pantera Negra", que estreia nesta quinta-feira (15), mude esse cenário.

Apesar de não ser o primeiro herói negro da Marvel a ganhar adaptação --a honra vai para "Blade" (1998)--, o filme quebra tabus: é a primeira superprodução do estúdio escrita, dirigida, protagonizada e com equipe formada predominantemente por negros.

A ideia de trazer o personagem Pantera Negra --alter ego de TChalla, rei da fictícia e ultramoderna nação de Wakanda, na África Central--, criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1966, teve início nos anos 1990, quando Wesley Snipes batalhou para tentar viver o personagem. Numa Hollywood engessada por fórmulas tidas como vencedoras, o filme nunca saiu do papel.

Foi apenas em "Capitão América: Guerra Civil" (2016) que o Pantera Negra ganhou forma na pele do ator Chadwick Boseman ("Get on Up: A História de James Brown"), como um príncipe que enfrenta a morte do pai e ascende ao trono de Wakanda.

"Não concordei com a maneira de começar a história. Achava que poderíamos esperar pelo filme solo antes", confessa Boseman. "Mas percebi que foi uma ótima ideia, pois deu um ar trágico para o personagem."

A trajetória do longa foi marcada por dificuldades do estúdio em executar uma superprodução --o filme custou US$ 200 milhões de dólares comandada por herói negro.

"[A Marvel] tem pessoas no poder com sensibilidade e coragem para fazer Pantera Negra, mas você sempre vai ouvir as pessoas dizendo que o longa vai ser um fracasso de bilheteria", reclama o ator.

Muita gente deve morder a língua. Segundo o site de vendas de ingressos Fandango, o longa já chegou a compras antecipadas superiores às de "Guerra Civil" e deve render US$ 150 milhões no fim de semana de estreia nos EUA.

O resultado vai tirar um peso dos ombros do diretor, que assumiu o projeto em janeiro de 2016: "Senti uma grande pressão. O trabalho com a Marvel foi incrível, mas você pensa quanto dinheiro é gasto num projeto assim e fica intimidado. No fim, a única pressão que importa é a interna: fazer um bom filme", disse à Folha.

MERGULHO AFRICANO

Coogler sabia que seria julgado minuciosamente, não só pelos fãs dos gibis mas também pelo fato de representar o continente africano e questões de conflitos raciais bem próximas a ele. Tanto que só aceitou a oferta após visitar a África com a noiva.

"Queria que o filme mergulhasse na cultura do continente. Wakanda é um país não colonizado por europeus que representa várias tribos da África", diz Coogler, que filmou algumas cenas externas na África do Sul e em Uganda.

Wakanda é a localidade com mais personalidade da Marvel. Coogler, que assina o roteiro com Joe Robert Cole, listou toda a história do país, da arquitetura à pirâmide social ao longo dos anos.

Diz ter se inspirado em "Cidade de Deus" (2002), de Fernando Meirelles. "É meu segundo filme preferido", conta, colocando o francês "O Profeta" (2009) no topo.

"Adoro o estilo cinematográfico do longa. Você consegue se transportar para aquele lugar só vendo o filme. É exatamente o que desejo que as pessoas sintam ao ver Pantera Negra, que vejam Wakanda como um lugar real."

Coogler recebeu todo apoio do estúdio para encontrar essa identidade e também um vilão original com motivações verossímeis --vivido por Michael B. Jordan, parceiro constante do cineasta.

"Pantera Negra" desvia da fórmula Marvel não apenas ao situar a trama na África mas por tratar de temas como isolacionismo, igualdade de gêneros, opressão e união.

"Eu estava obcecado pelas consequências do isolamento e neutralidade de um país, as encruzilhadas morais que surgem no caminho. Ao mesmo tempo, não queria catequizar ninguém. 'Pantera Negra' é para levar as pessoas para o cinema e divertir. Se passar algo mais, melhor ainda."

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