Descrição de chapéu

'Amante por um Dia' reafirma talento do francês Philippe Garrel

Sob ar comum, longa aborda de forma extraordinária confronto de duas jovens com as incertezas do amor

SÉRGIO ALPENDRE
São Paulo

Amante por um Dia (L’Amant d’un Jour)

  • Quando estreia nesta quinta (15)
  • Elenco Éric Caravaca, Esther Garrel, Louise Chevillotte
  • Produção França, 2017, 14 anos
  • Direção Philippe Garrel

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Um filme que se apresenta como ordinário. Foi mais ou menos assim que o grande crítico francês Jean Douchet definiu "Amante por um Dia", de Philippe Garrel.

Não é um julgamento negativo. Muitas vezes o mais difícil é conseguir tal aparência. Em Garrel, porém, esse ordinário é falso —uma vez que está só na superfície.

Foto preto e branco mostra duas moças, uma alta e mais loira (Louise Chevillote, que vive Ariane) e uma mais baixa e mais morena (Esther Garrel, que vive Jeanne), caminhando na rua lado a lado, em cena do filme "Amante por um Dia", de Philippe Garrel
Louise Chevillote (Ariane) e Esther Garrel (Jeanne, à dir.) em cena de 'Amante por um Dia', de Philippe Garrel - Divulgação

Há um redemoinho de sentimentos complexos agitando seus dramas, que se tornam, assim, extraordinários.

Após "Amantes Constantes" (2005), saudado como obra-prima, Garrel realizou cinco filmes mais simples, curtos e em preto e branco —exceção feita a "Um Verão Escaldante" (2011), seu trabalho menos forte neste século.

O primeiro foi "A Fronteira da Alvorada" (2008), que prossegue na densidade dramática de seus longas dos anos 1990. Em 2013, Garrel inicia, com "O Ciúme", uma espécie de trilogia sobre o ciúme e as desilusões amorosas.

"À Sombra de Uma Mulher" (2015) é o melhor da trilogia; infelizmente não teve lançamento comercial no Brasil.

Surge então este "Amante por um Dia", que nos mostra Esther Garrel, filha do diretor, como Jeanne, moça desesperada pelo fim de um romance.

Ela vai morar com o pai, Gilles (Éric Caravaca), que namora uma aluna, Ariane (Louise Chevillote), da idade da filha; tornam-se amigas.

A maneira de superarem suas prisões existenciais é viver a noite intensamente. Nisso temos a mais bela cena do filme, quando dançam com homens, numa reedição da cena "This Time Tomorrow" em "Amantes Constantes".

Se, no filme de 2005, a bela canção dos Kinks embalava jovens que não sabiam como agir diante do pós-68, aqui, "Lorsqu'il Faudra", de Jean-Louis Aubert sobre poema de Michel Houellebecq, embala as paixões das jovens que descobrem as incertezas do amor.

Também é tocante a cena em que Ariane encontra Jeanne prestes a pular de sua janela, num ato de negação que remete aos diversos suicídios em filmes de Garrel.

"Amante por um Dia" pode bem se disfarçar de ordinário, mas prova o talento inesgotável desse que é um dos mais importantes diretores franceses pós-nouvelle vague.

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