Descrição de chapéu

Tudo é velho em '12 Heróis', que recicla clichês do americano bonzinho

Filme é vendido como longa de guerra, mas está mais para um faroeste

Chris Hemsworth em cena de "12 Heróis", montado em um cavalo e com uma arma na mão
Chris Hemsworth em cena de "12 Heróis" - Divulgação
André Barcinski
São Paulo

O longa "12 Heróis" é vendido como um filme de guerra, mas está mais para um faroeste: os mocinhos andam a cavalo, têm bravura indômita, e são convocados para invadir uma região inóspita e aniquilar uma turma de bárbaros.

Tudo é velho nesse filme produzido por Jerry Bruckheimer ("Top Gun", "Piratas do Caribe"), veterano do cinema-explosão: a história recicla pela enésima vez os clichês do americano bonzinho que enfrenta uma ameaça externa.

Os mocinhos vêm da escola Chuck Norris e Sylvester Stallone de porrada e patriotismo, e os diálogos parecem saídos de um velho filme de John Wayne.

Chris Hemsworth (o "Thor" do cinema, em papel igualmente heroico e caricato), interpreta um capitão do exército dos EUA que lidera uma equipe de 12 soldados casca grossa numa missão ao Afeganistão, onde devem libertar uma cidade sob o domínio Talibã.

O terreno da região é tão acidentado que o único meio de transporte são cavalos.

O elenco é muito bom, incluindo atores talentosos como Michael Shannon (o vilão do filme mais superestimado dos últimos anos, "A Forma da Água"), Michael Peña ("Crash") e Navid Negahban (da série "Homeland").

A história, sejamos francos, não importa muito: para o público, tanto faz se os soldados americanos estão no Vietnã, no Iraque ou em Porto de Galinhas, contanto que eles acabem com todos os bandidos e explodam muitos prédios.

Filmes americanoides como "Rambo" e "Comando Delta" (ou, mais recentemente, a série "Os Mercenários") tinham um certo charme "trash", porque tanto os vilões quanto os heróis, vividos respectivamente por Stallone e Chuck Norris, eram absolutamente ridículos.

A coisa toda tinha um ar de farsa, como se fosse um episódio dos Trapalhões recheado de tiros, sangue e patriotismo.

O maior problema de "12 Heróis" é que ele se leva a sério. Há várias sequências em que fica nítido o esforço do diretor Nicolai Fuglsig em tentar fazer mais do que um simples filme de pancadaria.

Fulgsig, um premiado fotógrafo de guerra dinamarquês fazendo sua estreia no cinema, abre o filme com os soldados assistindo pela TV ao atentado de 11 de setembro de 2001. O público sabe que as cenas terríveis das Torres Gêmeas são verdadeiras, e isso imediatamente traz o filme para o plano incômodo da realidade.

Da mesma forma, os vilões de "12 Heróis" não são os terroristas de gibi que Rambo enfrentava. Na primeira aparição do Talibã no filme, um facínora executa, na frente de crianças de oito anos, a professora que cometeu o pecado de alfabetizá-las.

No fim, "12 Heróis" nem é estupidamente divertido como "Os Mercenários" nem grave como "Guerra ao Terror" (só para citar um ótimo filme de guerra). Fica num meio termo, tentando equilibrar-se entre a ação que agrada ao público e uma história que seja minimamente relevante.

12 heróis

  • Elenco Chris Hemsworth, Michael Shannon, Michael Peña
  • Produção EUA, 2018
  • Direção Nicolai Fuglsig
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