Descrição de chapéu Moda

Indústria aprova venda da SPFW, mas não comércio de nome e desfiles

Enquete entre membros do setor aponta que maioria é contra mudar a marca

São Paulo

Se a nova gestão da São Paulo Fashion Week decidir vender ingressos para desfiles ou mudar o nome do evento, como se aventou durante a temporada da semana passada, deve enfrentar resistência da indústria.

Em enquete realizada pela Folha nos cinco dias da 45ª edição do evento, 52 estilistas, empresários e profissionais de mídia opinaram, em condição de anonimato, sobre a compra da SPFW por um fundo árabe e sobre as possíveis mudanças implicadas no negócio.

Das cinco perguntas feitas pela reportagem, as que causaram mais controvérsia foram a que cogita a venda de ingressos para desfiles e a aplicação de “naming rights”, a mudança do nome por meio de contrato com patrocinador, modelo já testado pela semana de moda de Nova York e que desagrada a quase 60% dos ouvidos.

Segundo um dos entrevistados, foram 20 anos para SPFW se tornar uma marca reconhecida, o que explicaria seu posicionamento contrário ao uso de um nome de patrocinador.  

Já outro disse não concordar com o modelo da semana paulistana, que considera estagnado por se manter desde o início no Ibirapuera e só para convidados.

A permanência no parque não seria importante, porque, para um dos ouvidos, o evento não dialoga com o espaço. Outro pede maior abertura quanto aos espaços usados, sugerindo que a SPFW adote o modelo aplicado na semana de moda de Milão, onde as marcas fazem suas apresentações em prédios históricos.

A reportagem apurou que mudanças na estrutura do negócio só devem vir a ocorrem em 2019. 

Nos bastidores, comenta-se que o diretor criativo do evento, Paulo Borges, não concorda com o comércio para desfiles, porque, para lucrar com eles, o ingresso teria de atingir um valor muito alto , a fim de compensar gastos de produção. 

Estima-se que uma apresentação de médio porte, com cenário, estrutura e algumas poucas tops na seleção, custe em torno de R$ 200 mil.

A possibilidade de a IMM, empresa que comprou 50,1% das ações da Luminosidade, dona da SPFW, cobrar ingressos para um modelo de festival que una moda, música, gastronomia e palestras, foi aprovada por 63% dos entrevistados. 

Aqueles que não concordam questionam a utilidade pedagógica de cobrar ingresso para palestras, desvirtuando seu valor educacional.

A entrada do fundo árabe no Luminosidade não agrada a apenas 15% dos envolvidos na SPFW e não faz diferença para mais de 40% deles.

Um empresário, no entanto, apontou conflito entre a tentativa de conquistar uma identidade nacional e o dinheiro injetado no evento ser árabe. Outro, porém, disse que qualquer investimento na semana de moda é bem-vindo.

Mais criativas, grifes fazem boas coleções sem preterir vendas

Costuma-se dizer que a moda reflete os costumes de uma sociedade. No Brasil, pelo menos entre as grifes que desfilam na São Paulo Fashion Week, foram as oscilações na economia que definiram o rumo das coleções dos últimos três anos, cujas roupas são reflexos do humor instável do país.

Por isso não parece coincidência que, nesta temporada, as marcas tenham ensaiado melhora, ainda tímida, do exercício de criar novas ideias.

Ronaldo Fraga, Reinaldo Lourenço, João Pimenta, a Apartamento 03, de Luiz Claudio Silva, e a Osklen, de Oskar Metsavaht, mostraram como apresentar ideias relevantes sem preterir vendas.

Sustentabilidade, social e ambiental, como na coleção repleta de tecidos ecológicos da Osklen, memória afetiva e exaltação da cultura têxtil nacional convergiram nas propostas dos designers.

Suas coleções  imprimiram técnica, bom gosto e, ao mesmo tempo, reeditaram tendências mundiais, como o xadrez.

Recorrente nas últimas semanas de Milão e Paris,  o padrão gráfico apareceu em tecidos luxuosos nos desfiles de Pimenta e Lourenço, dois nomes que conseguiram resumir o desfile ideal: um misto de discurso, identidade de marca e tino comercial.

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