Venezuelana apresenta Mozart com Osesp

Gabriela Montero interpreta 'Concerto n.14 para piano' com a orquestra paulista

Gabriela Montero (à esq.) se apresenta em concerto da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo regido por Marin Alsop - Mark Allan/Divulgação
Sidney Molina
São Paulo

Em temporadas regulares estruturadas ao longo de vários anos, é normal que se estabeleçam vínculos especiais entre uma orquestra (e seu público) com certos solistas.

É o caso da pianista venezuelana Gabriela Montero, que já tocou diversas vezes em São Paulo e participou da turnê europeia da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) em 2016, solando o concerto de Grieg (1843-1907) no Royal Albert Hall de Londres.

A partir desta quinta-feira (12) a sábado (14) ela interpreta o "Concerto n.14 para piano" de Mozart (1756-91) com a orquestra paulista. Na última terça-feira (10), na Sala São Paulo, ela fez um recital solo bastante intimista.

Montero não se encaixa no padrão dos concertistas clássicos do século 20: para ela, a improvisação em tempo real ocupa o mesmo espaço que a performance das obras escritas.

De fato, escrita artesanal improvisação são complementares.

Se a primeira --ao fixar frases sonoras na partitura-- não fecha o espaço para a criação do intérprete em parâmetros como qualidade do som e o controle do tempo, a improvisação --criativa e livre-- nunca é destituída de estrutura, de esquemas, de forma.

Colocar em prática com a mesma categoria esses dois caminhos não é, entretanto, tarefa fácil diante de uma formação musical que, frequentemente, privilegia apenas um dos lados da moeda.

As improvisações de Gabriela Montero são também muito diferentes dos padrões jazzísticos, para os quais, em geral, há uma base harmônica fixa para se apoiar.

No recital de terça, ela exercitou improvisações autorais (inclusive atonais) a partir da mera sugestão de títulos "" ligados à infância em Caracas --, bem como, ao final, criou sobre dois temas cantarolados na hora pela plateia.

Assim, criou um prelúdio bachiano e uma valsa vienense sobre "Ponta de areia" (Milton Nascimento) e um estudo de concerto lisztiano a partir de "Maria" (Leonard Bernstein).

Cabe ressaltar que, no mesmo programa, ela tocou as "Cenas Infantis" de Schumann (1810-56), a "Sonata n.2" de Shostakovich (1906-75), e as bartokianas "Children's Songs" de Chick Corea (obras escritas).

improvisações

Nos concertos com a Osesp, apenas dois momentos serão propícios para improvisações: a breve cadência do concerto de Mozart (ao final do primeiro movimento) e, é claro, o bis --onde tudo pode acontecer.

No mais --e tão importante quanto-- serão as notas escritas com total maturidade por Mozart em 1784, aos 28 anos. Rege a Osesp o britânico Alexander Shelley, de 38 anos.

O programa trará também a divertida "Abertura" da ópera "O barbeiro de Sevilha", de Rossini (1792-1868) e a não tão popular "Sinfonia n.4" de Beethoven (1770-1827).

Os dois compositores têm destaque na programação do ano, o que tem trazido para a Osesp um foco saudável no repertório de finais do século 18 e início do 19.

OSESP

  • Quando qui (12) e sex. (13) às 20h30; sáb. (14) às 16h30
  • Onde Sala São Paulo, pça. Júlio Prestes, 16, tel. (11) 3667-9500
  • Preço de R$ 50 a R$ 222
  • Classificação 7 anos

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