Ciclo propõe debate sobre crise na democracia

Edição do Mutações, que volta a ser realizado em São Paulo, lança olhar sobre fundamentos da política

Gustavo Fioratti
São Paulo

O ciclo Mutações começou mais cedo neste ano, para esquivar-se de um embaraço conceitual iminente. 

A série de conferências teóricas se deslocou do segundo semestre para o mês de maio —o evento começa em São Paulo nesta segunda-feira (7). 

Seu organizador, o jornalista Adauto Novaes, queria evitar proximidade entre os debates sobre o tema desta edição (“A Outra Margem da Política”) e aqueles que surgirão em razão das eleições.

Novaes propôs aos conferencistas, nesta edição, discutir os fundamentos da política para além das abordagens relacionadas à sociedade brasileira. As conferências vão se dedicar a pensar “o que aconteceu com a política a partir das grandes mutações que a gente está vivendo”, resume. 

Adauto Novaes, organizador do ciclo - Bruno Poletti/Folhapress

Analisam-se “a globalização, o fim da ideia de Estado-Nação e a influência da tecnociência em todas as atividades humanas e em particular na política” como tópicos fundamentais dessas mudanças. 

No ano passado, a dificuldade de encontrar patrocinadores acabou resultando na exclusão de São Paulo da programação, que costuma acontecer em quatro cidades (também em Brasília, em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro). 

Mas a capital paulista volta a ser contemplada. Até 2016, era o Sesc que sediava o programa. Com a saída da instituição, o ciclo será abrigado pela Casa do Saber. Em BH e no Rio, sua programação já está em curso desde a semana passada. 

A capital paulista entra para o quadro nesta segunda (7), com a apresentação de Marilena Chauí (na palestra “Da Política como Gestão ao Político como Lógica do Poder”). Em Brasília, a grade tem início a partir desta terça-feira (8). 

Também estão elencados  entre os intelectuais da edição Lilia Moritz Schwarcz, Newton Bignotto, Oswaldo Giacóia, Franklin Leopoldo, Renato Janine Ribeiro, Pedro Duarte, Renato Lessa e Vladimir Safatle, colunista da Folha (veja programação completa em www.mutacoes.com.br).

Novaes chama atenção para a conferência do filósofo francês Jean-Pierre Dupuy, que vai falar na sessão “Do Populismo à Guerra: a Queda da Democracia (Norte-)Americana” (em São Paulo, no dia 7/6).

O que dá norte ao conjunto de conferências é a tentativa de compreender, como hipótese, a crise das representatividades em diversos governos. 

Para Novaes, “a gente tem só o corpo econômico funcionando no neoliberalismo” e “o corpo político desapareceu inclusive na ideia de povo”. 

Ele afirma ainda que o neoliberalismo deu base ao ressurgimento do totalitarismo. E atribui este fenômeno à supremacia dos valores estabelecidos pela ciência e pela tecnologia. “A ciência não pensa”, resume, citando Heidegger. 

Ciclo Mutações
Programação em São Paulo. Casa do Saber, r. Dr. Mario Ferraz, 414, Jardim Paulistano, tel. 3707-8900. Ingressos custam R$  60. Até 13/6. Veja programação completa no site www.mutacoes.com.br. 

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