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Personagem sedutor, polêmico, empreendedor e trágico, Tarso de Castro viveu menos de 50 anos —morreu em 1991, aos 49, de cirrose hepática.
A vida breve, contudo, foi intensa o bastante para que ele deixasse suas marcas no jornalismo e nas polêmicas culturais e políticas do país. Fundador do lendário O Pasquim, Tarso lançou outras publicações alternativas e também fez história na grande imprensa, quando trabalhou na Folha, em dois momentos, nas décadas de 1970 e 1980.
Foi ele quem criou e editou, em 1977, o suplemento dominical Folhetim, que adotava procedimentos consagrados pelo jornalismo cultural dos anos 1950 e 60 e pela chamada imprensa alternativa daquele período. O caderno marcou época e deu origem a outras versões, como o atual Ilustríssima.
Naquele tempo, quando a atmosfera mais sufocante da ditadura começava a se dissipar, a Folha emergia como um território mais arejado, abrigando nomes (muitos ligados ao Pasquim) como Paulo Francis, Plínio Marcos, Flávio Rangel, Sérgio Augusto e Ruy Castro —ao lado de representantes da nova geração.
O documentário dirigido por Leo Garcia e Zeca Brito tem o mérito de expor as múltiplas facetas do personagem, desde suas origens em Passo Fundo (RS) até suas últimas aventuras.
O filme traz material de época e ouve diversas pessoas que conviveram com Tarso, de colegas de imprensa, como Jaguar, Sérgio Cabral, José Trajano e Luiz Carlos Maciel, a amigos da área cultural, como Paulo César Pereio e Caetano Veloso, que é padrinho de João Vicente, o filho.
Um momento, aliás, a se destacar, é a conversa, tensa e reveladora, entre João e o jornalista Roberto D’Ávila sobre a personalidade exuberante de Tarso e seu impulso de certo modo suicida.
Há boas passagens, outras dispensáveis, cometem-se alguns exageros, como é habitual nesse tipo de documentário, e nem todas as opções dos diretores funcionam muito bem —como a ideia de fazer com que entrevistados falem como se estivessem ao telefone, numa referência à preocupação de Tarso de sempre ter um aparelho a seu alcance.
O aspecto mais criticável, porém, não reside na reconstituição do herói, mas na maneira pueril, fantasiosa e sem contraponto com que trata o processo de mudanças da imprensa brasileira, em particular da Folha, depois do ciclo que se encerra com o fim da ditadura militar. Perdeu-se a oportunidade de abrir um debate mais crítico e menos simplista sobre o que se passou.
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