Descrição de chapéu festival de cannes

Filme sobre guerrilheiras anti-Estado Islâmico divide crítica em Cannes

'Les Filles du Soleil' não agradou à crítica majoritariamente masculina

A diretora Eva Husson (segunda à esq.) posa ao lado das atrizes Emmanuelle Bercot (à esq.), Golshifteh Farahani e da produtora Didar Domehriand  em Cannes
A diretora Eva Husson (segunda à esq.) posa ao lado das atrizes Emmanuelle Bercot (à esq.), Golshifteh Farahani e da produtora Didar Domehriand em Cannes - Jean-Paul Pelissier/Reuters
Cannes (França)

Uma das maiores apostas de prêmio nesta edição do Festival de Cannes, o filme de cores feministas “Les Filles du Soleil” (As Filhas do Sol), da francesa Eva Husson, decepcionou a crítica –ou melhor, aquela assinada por homens. 

A obra veio à mostra de cinema carregada de potencial a sair os anseios de movimentos feministas, que explodiram com força neste ano. Mas sua abordagem tida como algo ingênua não comoveu a imprensa especializada –de composição majoritariamente masculina. 

“Les Filles...” narra a incursão de uma correspondente de guerra francesa (Emmanuelle Bercot) entre as fileiras de um time de guerrilheiras curdas que lutam contra um grupo extremista inspirado no Estado Islâmico. A frente de combatentes é formada apenas por mulheres, a maioria delas sobreviventes dos massacres e abusos sexuais cometidos pelos radicais muçulmanos. 

A líder é Bahar (Golshifteh Farahani, de “Paterson”), que teve pai e marido assassinados pelos terroristas, e o filho pequeno, capturado. Ela também foi escrava sexual dos agressores, mas decide se vingar juntando-se a um grupo de guerreiras “empoderadas” que bradam “Mulheres, Vida e Liberdade” antes de disparar rajadas contra os homens.

É uma obra que tem, portanto, o receituário completo para criar empatia em tempos de #MeToo e Time’s Up. Não à toa, foi antes de sua sessão que a atriz Cate Blanchett liderou uma marcha de 82 mulheres no tapete vermelho.

​Husson é uma das únicas três diretoras mulheres entre os 21 selecionados em Cannes neste ano. O que pode pesar contra “Les Filles...”, entretanto, é a forma como conduz a história. As cenas de ação seguem o manual surrado do gênero de câmera na mão e cortes bruscos. Já as falas saem como se fossem discursos engajados, cheios de frases de efeito e tons épicos. A história também inclui a manjada cena de parto durante tiroteio pesado e apelos para que a jornalista “escreva A verdade”. 

Crítico da revista Variety, Jay Weissberg, chamou o filme de um “drama pedante e carregado de senso comum”. Para Jordan Mintzer, da Hollywood Reporter, o filme acaba com a sensação de que “perdeu a batalha”. Peter Bradshaw, do jornal inglês The Guardian, apontou aspectos positivos, mas afirmou que falta sutileza e sobra ingenuidade na obra.   

Rara mulher entre os resenhistas, Sharon Waxman, do The Wrap, gostou de “Les Filles”. “Alguns podem achar manipulador o uso da música estrondosa. Outros vão acha-la o perfeito contraponto à pesada emotividade. Mas a emoção é conquistada de forma honesta. [...] O filme não pode exagerar os horrores que mulheres naquela parte do mundo viveram.” 

O jornalista se hospeda a convite do festival
 

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