'O rock está longe de morrer', diz Corey Glover, do Living Colour

Vocalista fala sobre a banda, sucesso nos anos 1980, que se apresenta em SP nesta sexta (11)

São Paulo

Em julho do ano passado, uma pesquisa da Nielsen mostrou que o R&B e o rap ultrapassaram o rock como o gênero mais ouvido nos Estados Unidos.

As guitarras também não aparecem nas primeiras posições entre o que os brasileiros mais escutam, segundo dados das plataformas de streaming ​—funk​ e sertanejo dominam. Estaria o rock perdendo a relevância?

"Não, não, não", rebate Corey Glover, vocalista do Living Colour, banda que fez bastante sucesso entre o final dos anos 1980 e começo dos 1990 com músicas bem roqueiras como "Cult of Personality", "Type" e "Elvis Is Dead".

Para Glover, que se apresenta com o grupo em São Paulo nesta sexta (11), "a ideia tradicional do que é uma banda de rock mudou muito".

"Algumas pessoas acham que fazer rock é tocar com guitarra, baixo e bateria. Mas pode ser também um violão e um sintetizador. Ou alguém usando um sample de um rock antigo para rimar por cima", aponta. "Isso também é rock. O rock está longe de morrer, pelo contrário, está evoluindo."

O pensamento de Glover reflete a movimentação de vários artistas jovens atualmente, que fazem parcerias e misturam gêneros como funk, sertanejo, house, pop.

"O gosto dos mais jovens ficou mais variado, ampliado. O acesso hoje é muito maior do que era antigamente, quando sabíamos exatamente quem ouvia a nossa música, pela roupa, pela própria atitude. Isso não existe mais. Não há mais tribos definidas por um gosto musical."

Ao lado do guitarrista Vernon Reid, do baterista Will Calhoun e do baixista Muzz Skillings, Glover —que também é ator— ajudou a levar o rock ao topo das paradas décadas atrás com os dois primeiros discos da banda, "Vivid" (1988) e "Time's Up" (1990).

Era uma época em que cresceram nomes como Red Hot Chili Peppers, Nirvana, Soundgarden, entre outros.

"Tínhamos influências de jazz, de soul, funk, que eram mais evidentes, mas acho que outras bandas daquela época também tinham algumas dessas referências", lembra.

"Consigo ver a influência do jazz em bandas como o Chili Peppers, em linhas de baixo, por exemplo."

O grupo ainda lançaria um disco que fez sucesso modesto, "Stain" (1993). Depois, em 1995, a banda encerraria as atividades —para voltar cinco anos mais tarde.

O grupo lançou os álbuns "Collideøscope" (2003) e "The Chair in the Doorway" (2009), mas sem alcançar a popularidade do início dos anos 1990.

"Sim, fizemos bastante sucesso nos anos 1990, mas estávamos muito envolvidos com a banda, com a nossa música, para ter noção do que acontecia", diz Glover.

"Queríamos apenas tocar, ir para o próximo show. Tentávamos nos manter relevantes para nós mesmos, não nos interessávamos muito pelo que escreviam sobre nós."

O Living Colour lançou o sexto e mais recente disco, "Shade", no ano passado. Músicas deste álbum —e de toda a carreira do grupo, segundo Glover— estarão na apresentação desta sexta.

Entre as 13 músicas do disco, há três covers: "Preachin' Blues" (Robert Johnson), "Inner City Blues" (Marvin Gaye) e "Who Shot Ya?" (Notorious B.I.G.).

"Fizemos [os covers] porque queríamos entender de onde vem o blues, não apenas em sua forma tradicional", diz o vocalista.

"Os três covers podem ser chamados de blues. Obviamente a música do Robert Johnson é a mais tradicional, vem de onde o blues começou. Mas 'Inner City Blues' eh um blues modernizado, e 'Who Shot Ya?' é um blues contemporâneo. Essas músicas dizem muito não apenas sobre o blues, mas sobre a nossa banda. Sobre quem somos."

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