Quarteto carioca Casuarina mira futuro do samba em novo álbum "+100"

Trata-se do primeiro trabalho sem o integrante João Cavalcanti

Victoria Azevedo
São Paulo

“O sambista entende que ou ele resiste ou ele desaparece. E está provado que esse artista não vai desistir tão fácil assim”. É com essa frase que o músico Gabriel Azevedo, 38, introduz o disco “+100”, o oitavo do seu grupo, o quarteto carioca de samba Casuarina.

Eleito melhor conjunto de samba pelo Prêmio da Música Brasileira de 2017, o grupo também é formado por Daniel Montes (violão de sete cordas), João Fernando (bandolim e violão tenor) e Rafael Freire (cavaquinho e banjo). Todos compõem o coro .

“É um disco de recomeço”, afirma Azevedo. Trata-se do primeiro trabalho sem o integrante João Cavalcanti. Filho de Lenine, o cantor deixou o grupo no fim do ano passado para seguir carreira solo. “Momentos como esses servem para você reafirmar a condição de grupo.”

Como o próprio nome da obra indica, neste trabalho a banda se propõe a apontar o futuro do samba, levando em conta a história acumulada nos últimos cem anos e já traçando as comemorações do bicentenário do gênero.

A ideia do registro surgiu depois do show “CentenáRIO Samba”, em 2017, no qual os músicos relembraram os primeiros cem anos do estilo, comemorados na ocasião.

Desta vez, os integrantes atuaram como intérpretes, e foram atrás de compositores da nova geração, como André da Mata e Raul DiCaprio.

Casuarina
O quarteto Casuarina lança o álbum "+100" - Leonardo Aversa/Divulgação

No exercício, encontraram mais músicas do que esperavam; entre elas, faixas assinadas por nomes mais experientes, como Ivor Lancelotti e Roque Ferreira, que não tiveram como recusar. “Conseguimos apresentar um panorama bom do que é a produção atual”, afirma Azevedo.

Valorizando a figura do compositor, o disco reúne 12 canções inéditas. 

Há participações de Martinho da Vila (“Tempo Bom na Maré”) e Leci Brandão (“Herança de Partideiro”), além de artistas que não estão diretamente relacionados ao gênero, como Geraldo Azevedo (“Embira”) e Criolo (“Quero Mais Um Samba”).

Diferentemente dos últimos dois trabalhos —“No Passo de Caymmi” (2014) e “7” (2016)—, de sonoridade moderna, “+100” resgata a ideia do samba tradicional, incluídas as variações de estilo que o gênero permite.

“É necessário chegar no sapatinho, com respeito e entendendo o que aconteceu antes de a gente aparecer”, diz Gabriel Azevedo. 

Liricamente, o novo registro não difere das temáticas abordadas pelo conjunto, entre as quais se inserem desilusões amorosas, questões sociais e existenciais.

Sem deixar de pensar no que vem por aí, o músico concorda com a frase icônica do veterano Nelson Sargento, 93, de que o samba “agoniza mas não morre”.

Ele avalia o mercado do gênero a partir de momentos cíclicos, que ora oscila em fases de alta, ora em fases de baixa. 

“Mesmo em períodos mais críticos, o samba resiste nas ruas, nos botecos, nos becos. É o gênero que define a nossa identidade musical enquanto brasileiro.”

 

100+
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