Fernanda Takai abraça bossa nova com canções menos conhecidas de Tom Jobim

Novo álbum da cantora, 'O Tom da Takai', foi produzido por Roberto Menescal e Marcos Valle

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Fernanda Takai, que lança álbum dedicado a canções de Tom Jobim (exclusiva Folha/Ilustrada)
Fernanda Takai, que lança álbum dedicado a canções de Tom Jobim - Weber de Pádua/Divulgação
São Paulo

​É oficial: após anos de paquera e pegação, Fernanda Takai e a bossa nova estão finalmente namorando.

A líder do Pato Fu, nome forte do pop rock nacional dos anos 1990, desfila de mãos dadas com o gênero disseminado por João Gilberto e Tom Jobim (1927-1994) em "O Tom da Takai", que sai nesta sexta (1º).

A inspiração são músicas de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim nos anos 1950 e 60, os "lados B" do maestro.

"Vamos mostrar a genialidade dele desde novinho, não só após se consagrar e tocar com Frank Sinatra", diz a cantora.

São títulos como "Fotografia" (1959), "Outra Vez" (1958) e "Bonita", escrita por Tom em 1963 após um encontro com a ex-modelo Candice Bergen —a informação é do jornalista Ruy Castro, colunista da Folha, em seu livro "Chega de Saudade: A História e as Histórias da Bossa Nova" (2001).

Mesmo o recorte alternativo de Tom, porém, inclui melodias conhecidas, como a de "Brigas Nunca Mais" (1959), famosa com Elis Regina (1945-1982).

Takai é aficionada da bossa nova desde a infância —impactou-a a delicadeza da cantora Sylvia Telles (1934-1966).

Ela já havia tateado o gênero em "Onde Brilhem os Olhos Seus" (2007), sobre Nara Leão (1942-1989), e em "Fundamental" (2012), com versões arranjadas por Andy Summers, guitarrista da banda The Police.

Mas ressalva: "O disco dedicado à Nara não era de bossa; tinha samba de morro, Robertinho de Recife". E, no trabalho com Summers, diz, foi pouca sua influência sobre as músicas, que já estavam prontas quando ela foi colocar sua voz.

Desta vez, Takai participou da concepção estética e acompanhou "cada sessão em que eles gravaram instrumentos".

"Eles" são Roberto Menescal e Marcos Valle. Os veteranos da segunda geração da bossa dividem a produção do disco, cuja ideia surgiu no palco.

Os três se apresentavam juntos em show da turnê que celebrava os 80 anos de Menescal, em 2017, quando o homenageado interrompeu os colegas em "Estrada do Sol" (1957).

"Falei no microfone: 'Para, para um instantinho'. Fernanda até pensou que tinha errado, mas é que eu não podia perder a ideia", ele lembra.

Além de tocarem em todas as músicas, Menescal (violão) e Valle (teclas) dividem vozes com a cantora em temas como "Fotografia" e "Ai Quem me Dera" —segundo ela, um resgate dos duetos do samba-canção e da bossa nova.

Sobressaem no trabalho a deferência às raízes e um esforço de atualização. Essa dualidade se mostra, em uma ponta, no rigor formal das gravações e dos arranjos. Na outra, revela-se no contrabaixo elétrico, nas guitarras e nos órgãos, coloridos (como em "Samba Torto"), em oposição à transparência pianística que vigorou dos anos 1950 a 1970.

Além disso, em diversos momentos o canto de Takai é ornamentado aos moldes do pop, como nas dobras (quando há mais de uma voz da mesma pessoa, em intervalos diferentes) em "Bonita" e nos ecos em outras canções.

Os veteranos se mostram satisfeitos e não poupam elogios. "A Fernanda ficava no estúdio o tempo todo, perguntando de lá e de cá, e tem uma vozinha tão linda; encaixou perfeitamente", comenta Valle.

"Ela tem toda a condição de dar continuidade ao que a gente fez lá atrás; é um disco que a bossa nova merecia", acrescenta Menescal.

Estarão com a cantora em 16/6, em Belo Horizonte, em show com o qual querem rodar o país a partir de agosto.

Takai também se diz orgulhosa. Após 11 álbuns com o Pato Fu, quatro discos solo, dois livros infantis e dois de contos e crônicas, ela entende ter realizado um desejo antigo que, espera, vai consolidá-la "não apenas como líder de uma banda de rock, mas também como intérprete".

Para consegui-lo, aposta no vocabulário adquirido, como no esforço em adequar o ouvido de fã ao rigor dos registros.

"No rock, há no máximo cifras, referências; nesse disco, cantei as melodias como foram escritas nas partituras."

Em tais balizas, não viu prisão, mas lições: "Em um disco dedicado à obra de um artista, achei importante me colocar a serviço do que ele escreveu".

Que Tom Jobim é esse?

"Fotografia", do disco "Amor de Gente Moça" (1959), de Sylvia Telles; foi regravada por Nara Leão e Elis Regina

 "Bonita", do álbum "The Wonderful World of Antonio Carlos Jobim" (1965); gravada por Sinatra e Sarah Vaughan

"Estrada do Sol", do disco "Sylvia Telles USA" (1958), de Sylvia Telles; foi regravada por Gal Costa e Nana Caymmi

 

"Samba Torto", do disco "Amor em Hi-Fi" (1960), de Sylvia Telles

"Aula de Matemática", do disco "Sylvia" (1958), de Telles, e também de "Magnífica" (1959), de Elizeth Cardoso

Fonte: Instituto Antonio Carlos Jobim 


 

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