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'O Nome na Ponta da Língua' mostra o vigor de Quignard ao longo dos anos

Pouco traduzido no Brasil, autor francês renova temas recorrentes a cada abordagem diversa

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O escritor francês Pascal Quignard - 28.out.2002 - Associated Press
Guilherme Gontijo Flores

O Nome na Ponta da Língua

  • Preço R$ 40 (128 págs.)
  • Autoria Pascal Quignard
  • Editora Chão da Feira
  • Tradução Ruth Sivilano Brandão e Yolanda Vilela

O francês Pascal Quignard vem construindo, desde o final dos anos 1960, uma obra complexa e de difícil categorização, fundindo ensaio, autobiografia, ficção e fábula, com uma erudição inquieta e inquietante que passa pela historiografia, pela pintura, pela literatura, pela psicanálise e sobretudo pelos limites da linguagem.

Não é exagero dizer que Quignard hoje é uma das figuras mais importantes da literatura viva francesa.

Conhecido no Brasil graças ao filme “Todas as Manhãs do Mundo” (1991), de Alain Corneau, baseado em seu romance homônimo, Quignard continua infelizmente pouco traduzido no país. 

Nos últimos anos, apareceram alguns trabalhos novos, tais como “Butes” (2013, Dobra Editorial), “Último Reino” (2013, Hedra) e “A Razão” (2014, Autêntica), que começam a ampliar seu catálogo e suprir essa lacuna.

Nessa sequência, acaba de sair “O Nome na Ponta da Língua”, originalmente publicado em 1993 e agora traduzido pelas mãos de Ruth Silviano Brandão e Yolanda Vilela.

Um limite da linguagem é precisamente o tema dessa obra tripartida, o momento em que a palavra escapa, que então é compreendia como expressão da condição humana nesse silêncio imposto, nesse gozo de reencontrar uma palavra perdida, como condição e demanda para todo escritor.

É a partir desse mote que Quignard passeia entre notas sobre os motivos que o levaram a escrever o texto e memórias de sua própria infância na Normandia a ver a mãe estanque a procura de uma palavra, entremeando tudo com a fábula de Jeûne e Colbrune e com reflexões sobre mitologia antiga e filosofia da linguagem.

Não é à toa, portanto, que o livro possa ser alocado tanto na prateleira de ensaios quanto na de contos. Essa indefinição aparece também nas soluções de Brandão e Vilela, que ora se comportam como tradutoras de filosofia com colchetes e notas explicativas, ora como tradutoras literárias que buscam recriar jogos de linguagem.

Essa instabilidade é talvez o que menos se veja na nossa produção nacional contemporânea, daí a importância ainda maior de traduzir e publicar Quignard, uma vez que sua escrita chega como ponto fora da curva, como provocação renovada à leitura e à escrita.

Além do texto anunciado no título, o livro conta também com dois textos menores posteriores de 2014, “O Enigma” e “Comentário sobre Três Versos de Donne”. 

O resultado é um livro que tensiona a produção de Quignard e mostra seu vigor ao longos dos anos, com temas recorrentes renovados a cada abordagem diversa.

Guilherme Gontijo Flores
Professor de língua e literatura latinas na UFPR e tradutor

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