Descrição de chapéu

'Lámen Shop' é equivalente cinematográfico para o termo comfort food

Longa navega entre vazio do presente e saudade de uma infância idealizada em fotos e flashbacks

Cássio Starling Carlos

Lámen Shop (Ramen Teh)

  • Quando Estreia nesta quinta (26)
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Takumi Saitoh, Jeanette Aw, Tsuyoshi Ihara
  • Produção Singapura/Japão/França, 2018
  • Direção Eric Khoo

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O termo “comfort  food”, expressão inventada para rebatizar a velha e boa comida de mãe e os pratos carregados de experiências afetivas, ganha seu equivalente cinematográfico em “Lámen Shop”.

O novo longa de Eric Khoo pode decepcionar quem se entusiasmou com as crônicas sobre incomunicabilidade que revelaram o diretor singapurense na década passada. Mas reúne os ingredientes para satisfazer o paladar do público mais interessado em culinária que em estética cinematográfica.

O filme acompanha os passos de Masako, jovem japonês que acaba de perder o pai, dono de um pequeno restaurante, e que encontra receitas escritas em mandarim no diário da mãe —também já morta— originária de Singapura.

O rapaz navega entre o vazio do presente e a saudade de uma infância idealizada em fotos de viagens e em flashbacks. 

A vontade de descobrir os segredos culinários da família leva Masako a Singapura, onde ele entra em contato com suas origens e luta para reconectar afetos rompidos.

Este duplo movimento permite que “Lámen Shop” não se restrinja ao nicho dos filmes culinários com tempero turístico. Sob essa superfície encontra-se a tradição, muito mais consistente, do melodrama, gênero que os cinemas asiáticos exploram de modo peculiar.

Eric Khoo utiliza o apelo da temática alimentar para atrair outro tipo de público e para ter visibilidade garantida em grandes festivais, como Berlim, no qual o filme estreou em 2018 dentro da mostra Cinema Culinário.

Ao mesmo tempo, o cineasta recorre ao sentimentalismo do melodrama sem que isso afaste sua atenção aos temas do abandono e da solidão, que abordou com maior intensidade em “Fica Comigo” (2005) e “My Magic” (2008).

Melodrama, aqui também, não é sinônimo de emoções baratas, pois o filme aproveita os movimentos de descoberta e de reconciliação para tocar nas cicatrizes deixadas pelo imperialismo japonês.

Assim, “Lámen Shop” ganha uma pincelada política, recuperando a memória da dominação militarista japonesa sobre os vizinhos.

Estas questões incômodas, no entanto, são abordadas com ligeireza, de modo a não atrapalhar quem busca nesse tipo de filme apenas estímulo para a refeição após a sessão.

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