A relação de Valentina Lisitsa, que se apresenta nesta semana em São Paulo, com o Brasil precede a fama digital. Ela esteve no país em 2003 e 2005, tocando com a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). A partir de 2007, no entanto, sua carreira mudaria sensivelmente.
Num momento em que poucos artistas clássicos investiam para valer na internet, vídeos da pianista ucraniana ganharam projeção inesperada.
Um dos primeiros, com o "Estudo n.4 op.10", de Chopin, foi visto mais de 1,6 milhão de vezes. Mas nada se compara ao da "Rapsódia Húngara n.2", de Liszt, com pouco mais de 9,7 milhões de visualizações até a conclusão desta edição.
Ela voltaria ao Brasil outras quatro vezes, sempre tocando com orquestras. Mas agora, já era uma estrela do mundo virtual: seu canal no Youtube possui hoje mais de 400 mil inscritos e quase 180 milhões de visualizações. Ela pôde tirar proveito pleno dessa fama por aqui no ano passado, quando pela primeira vez se apresentou em recitais solo por várias cidades.
Ela deixou público e crítica boquiabertos com programas de quase três horas de duração, que misturavam alguns de seus hits da internet (Chopin e Rachmaninov) com peças de fôlego do repertório pianístico.
Lisitsa volta a São Paulo nesta semana, para interpretar um de seus autores prediletos, Rachmaninov, ao lado da Orquestra Sinfônica Municipal.
"O 'Concerto n.3', de Rachmaninov, é um dos favoritos de qualquer público, pois tem um apelo verdadeiramente universal. E a principal razão não é ser diabolicamente difícil, mas sim pela montanha-russa emocional que é", diz.
A apresentação, regida pelo maestro Fabio Mechetti, ainda tem "Encantamento", do brasileiro Camargo Guarnieri, e "Danças sinfônicas", também de Rachmaninov.
Aos 44 anos, a pianista ucraniana de origem russa que se comunica franca e diretamente com seu público e não esconde suas posições políticas (deu declarações pró-Rússia num conflito com a Ucrânia, o que gerou inclusive um cancelamento de concerto) segue colhendo os louros de sua bem-sucedida investida digital, aliada à competência técnica e musical.
Após os concertos em São Paulo, ela toca na Europa e se prepara para um trabalho de fôlego: a gravação de toda a obra para piano de Tchaikovsky, que deve sair em dez CDs.
"O projeto acabou sendo uma surpresa mesmo para mim, apesar de ter crescido na ex-URSS e estar imersa na música russa. Descobri que não conhecia 90% da música de piano de Tchaikovsky", diz.
"Mas, conversando com os colegas, vi que essa é uma situação geral: embora seja um compositor muito conhecido por seus balés, sinfonias e concertos, suas peças para piano são em sua maioria desconhecidas. Haverá inclusive primeiras gravações. Há obras-primas incríveis e espero que os ouvintes se apaixonem por elas como aconteceu comigo".
Valentina Lisitsa e Fabio Mechetti
Nesta sex. (27), às 20h, e no sáb. (28), às 16h30. Theatro Municipal de São Paulo (pça Ramos de Azevedo, s/n, São Paulo). Ing.: de R$ 12 a R$ 40, na bilheteria. Livre.
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