Após intervenção cardíaca, Alcione paga dívida antiga com Luiz Melodia

Cantora interpreta 'Estácio, Holly Estácio' em premiação no Rio que homenageia o compositor

Rafael Gregorio
Rio de Janeiro

De manhã a voz de Alcione já preenche a sala de melodias potentes, entremeadas por risadas fartas dela e das manas —irmãs e amigas de quem vive cercada.

Nada indica que sofrera uma intervenção no coração semanas antes de receber a Folha em sua casa na Barra, no Rio.

Em São Paulo, a maranhense precisou realizar uma angioplastia e ter implantado pela terceira vez um stent no coração —grosso modo, um tubo que desobstrui artérias.

Já havia passado por procedimento similar em dezembro e emagreceu mais de 25 kg durante a recuperação. "Stent é igual a paixão: te deixa novinha, novinha." Ato contínuo, canta uma toada de bumba meu boi e oferece iguarias que trouxera de São Luís : guaraná Jesus e biscoitos Zé Pereira.

Revigorada, está exultante pela oportunidade que terá de pagar o que chama de "dívida antiga" no 29º Prêmio da Música Brasileira, que homenageia Luiz Melodia (1951-2017).

Na cerimônia desta quarta (15), no Rio, a Marrom interpreta "Estácio, Holly Estácio", do primeiro disco do compositor. "Toda vez que nos encontrávamos, eu dizia que ia gravar essa canção."

A leitura deve integrar "Eu Sou a Marrom", show que pretende registrar em DVD. O repertório pinça destaques de 46 anos de carreira, desde 1972, quando se mudou para o Rio em busca da carreira musical. Isso foi antes do primeiro de seus mais de 30 discos, "A Voz do Samba" (1975).

O primeiro contato com a música foi tocando trompete, por influência do pai, músico da banda e exímio repentista.

Mais tarde, conheceu Ella Fitzgerald (1917-1996) e Sarah Vaughan (1924-1990), e tudo mudou. Inspirada nas americanas e em brasileiras, como Elza Soares e Angela Maria, aspirava à carreira de cantora.

Conseguiu. E celebrizou temas hoje clássicos, como "Não Deixe o Samba Morrer" e "Rio Pequeno". Sua particular mistura de samba, jazz e folclore a levou a mais de 30 países e fez dela uma das vozes mais relevantes da MPB, reconhecida até por estrangeiros ao Brasil e ao samba, como o cantor Axl Rose, da banda Guns N' Roses, seu fã.

As glórias e o reconhecimento, contudo, não a impedem de lembrar como uma crítica da jornalista Maria Helena Dutra (1937-2008) mudou sua trajetória: "Ela disse que eu só faltava fazer chover no palco, mas também apontou defeitos. Pois no dia seguinte voltei e refiz tudo direito".

Aos 70, ela segue cheia de planos, como um musical e um documentário dos quais será tema e que devem sair em breve. Também retomou a agenda de shows: no sábado (10), cantou por mais de duas horas para 5.000 pessoas.

Nas próximas semanas, ela se apresentará em Jaguariúna (SP, 18/8), Recife (PE, 24/8) e João Pessoa (PB, 25/8), e, depois, fará apresentação em Angola.

Só uma coisa mudou: os espetáculos agora são mais espaçados. "Preciso descansar, já não sou uma garotinha."

É católica, mas também professa a umbanda e o espiritismo —segundo ela, uma cirurgia espiritual a salvou de perder a voz nos anos 1980.

"O médico 'da terra' me falou que eu tinha mais um ano para cantar. Mas resolvi ir ao Dr. Fritz, e recebi 18 discos de ouro desde então", diz, citando a entidade com médiuns para tratamentos de saúde.

Só uma coisa parece abalar seu bom humor: o descaso de políticos com o Rio.

Do auge da experiência de quem viveu três casamentos e se manteve amiga dos ex, ela refuta "atestados de eternidade", mas diz não gostar de terminar relações. "Tomar um pé na bunda é mais fácil."

​E além do stent, alguém ocupa o coração de Alcione hoje? "Por enquanto, não, querido, mas estou aí. Se aparecer um amor, eu me jogo."

29º Prêmio da Música Brasileira

Theatro Municipal do Rio - pça. Floriano, s/n, centro, Rio de Janeiro. Qua. (15): 21h. Ingr.: R$ 75 a R$ 150, p/ site ingressorapido.com.br. Transmissão ao vivo no canal de YouTube do prêmio e no Canal Brasil

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