Descrição de chapéu

Incisivo, D2 revela sofisticação sem truculência em 'Amar É para os Fortes'

Em álbum visual, cantor segue mostrando domínio na intersecção do hip-hop com o samba

Stephan Peixoto, filho de Marcelo D2, e Beatriz Alves em 'Amar É para os Fortes'
Stephan Peixoto, filho de Marcelo D2, e Beatriz Alves em 'Amar É para os Fortes' - Divulgação
Thales de Menezes
São Paulo

Amar É Para os Fortes

  • Quando . Lançamento do disco e do filme nesta quinta (30), na Apple Music. Em 30 dias, álbum vai para outras plataformas digitais
  • Artista Marcelo D2

O cantor e compositor Marcelo D2 afirma viver em busca da batida perfeita, como diz o título de seu segundo álbum solo, de 2003. Se o cineasta e roteirista Marcelo D2 está em busca da cena perfeita, dá bons passos iniciais na direção de "Amar É para os Fortes", filme de meia hora que exibe as músicas de seu novo disco, homônimo.

Ele segue a tendência do álbum visual, o conceito de apresentar uma leitura de imagens para acompanhar, faixa a faixa, o conteúdo de um disco. Nos Estados Unidos, os figurões Beyoncé e Jay-Z já decretaram o formato como futuro certo.

Marcelo D2 pegou pesado, foi ambicioso. Costurou um roteiro que mostra as andanças do jovem Sinistro, garoto enturmado na bandidagem que vai trabalhar numa galeria de arte. Lá conhece a francesa Chloë. Na fronteira volátil entre dois mundos, o rapaz tenta achar seu lugar.

Essa discussão se encaixa nos versos nervosos das dez faixas do disco. D2 apresenta o discurso mais sofisticado e concatenado do hip-hop nacional. Sabe ser incisivo sem truculência, mostra autoestima sem arrogância, bate pesado sem desrespeitar.

Inevitável pensar em Sinistro como projeção jovem do próprio D2, como alguém que faz arte contra violência e intolerância. "Amar É para os Fortes" poderia ser um videoclipão, apenas amarração de ideias visuais para encadear canções. Vai além.

A direção nervosa, a fotografia de cortes ousados e o farto entrosamento gestual do casal de protagonistas, Stephan Peixoto e Beatriz Alves, dão personalidade e consistência ao filme. O clima de tensão está impregnado nas andanças de Sinistro e Chloë, quando alternadamente avançam um pelo território do outro.

De nada adiantaria esse refinamento imagético se a música não fosse boa. D2 segue mostrando domínio na intersecção do hip-hop com o samba para ancorar nessa mistura as letras de um autor em defesa de seu território.

A descrição dos morros do Rio é montada com verbos nada simplórios. Destaque para a parceria com Wilson das Neves em "Surpresa (Pros Amigos)" e a participação de Gilberto Gil em "Resistência Cultural". D2 acerta a mão em palavras, sons e imagens. 

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