Descrição de chapéu

Retrato de Pablo Escobar em novo longa é caricatura de psicopata

Com Penélope Cruz e Javier Bardem, 'Escobar: A Traição' paga preço alto pela superficialidade do livro em que é baseado

Cena do filme 'Escobar - A Traição' Divulgação

Alexandre Agabiti Fernandez

ESCOBAR – A TRAIÇÃO (LOVING PABLO)

  • Classificação 16 anos
  • Elenco Javier Bardem, Penélope Cruz, Peter Sarsgaard
  • Direção Fernando León de Aranoa

O diferencial desta em relação à atual overdose de produções sobre o megatraficante colombiano Pablo Escobar é ser uma adaptação de “Amando Pablo, Odiando Escobar”, livro de memórias da jornalista Virginia Vallejo, ex-amante do gângster. Mas o filme acaba pagando o alto preço imposto pela superficialidade do livro.

Algo que poderia ser um trunfo —ao menos no papel— é ter Javier Bardem no papel do ogro, enquanto Penélope Cruz encarna Vallejo, à época uma das mais populares apresentadoras da televisão colombiana. Mas isto tampouco vinga.

Para explicitar o vínculo com o livro e afirmar uma suposta perspectiva feminina, o diretor e roteirista Fernando León de Aranoa espalhou intervenções em voz off do personagem da apresentadora ao longo do filme. As informações fornecidas por esse recurso nada acrescentam à narrativa e ao personagem do barão da cocaína, funcionam como mero artifício para que Vallejo –apenas uma das dezenas de amantes do criminoso– continue presente nos inúmeros momentos em que seu personagem não participa da história.

O retrato de Escobar esboçado pelo filme é pobre, não traz nada que outros filmes e séries já não mostraram. O Escobar barrigudo de Bardem até que começa bem ao evidenciar seu lado cabotino. Mas a caracterização do ator espanhol logo sofre com as restrições impostas por um roteiro simplista que prefere vê-lo fundamentalmente como a caricatura de um psicopata cínico.

Penélope Cruz se entrega de corpo e alma —e com visível prazer— à composição desse arquétipo de perua que é Vallejo: ostentosa, vulgar e cheia de rímel. Mas a maquiagem, o penteado e os vestidos aparecem mais do que o trabalho da atriz, que chega a ser constrangedor nas cenas em que sofre ameaças e o acosso dos sicários de Escobar, quando esperneia fazendo caretas.

Para dar um toque delirante a esse desastre, os colombianos falam em inglês —por alguma razão inexplicável–, mas xingam e soltam interjeições em espanhol.

O resto são sequências convencionais de perseguições, ultraviolência e hemoglobina, algumas doses de melodrama, e uma ou outra cena de algum impacto, como a aterrissagem de um avião carregado de cocaína em uma rodovia nos Estados Unidos.

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