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Documentário expõe arbitrariedades da PM e traz elementos para reflexão

Depoimentos de vítimas e filmagens de época formam catálogo de arbitrariedades em 'Marcha Cega'

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Cena do documentário 'Marcha Cega'
Cena do documentário 'Marcha Cega' - Divulgação
São Paulo

Marcha Cega

  • Quando Estreia nesta quinta (27)
  • Classificação 12 anos
  • Produção Brasil, 2016
  • Direção Gabriel Di Giacomo

Veja salas e horários de exibição

Se existe algo que une as manifestações de junho de 2013 em repúdio ao aumento das passagens de ônibus, os protestos contra o impeachment de Dilma Rousseff, os atos em reação à Copa de 2014 e as ocupações das escolas estaduais paulistas por estudantes secundaristas em 2015 –contra a restruturação do ensino pretendida pelo governo estadual– é a truculência da Polícia Militar.

A violência desmedida amplamente registrada à época é retomada neste documentário que procura ir além da denúncia, contribuindo com a reflexão sobre a mais do que urgente reestruturação do aparato policial.

As imagens da repressão, geralmente trêmulas, muitas vezes tomadas por celulares, são alternadas com depoimentos de vítimas dos abusos, advogados, socorristas e especialistas em segurança pública. Uma vítima é presença constante, representando assim todas elas, o fotógrafo Sérgio Silva, que perdeu a visão de um olho ao levar um tiro de bala de borracha enquanto cobria uma manifestação contra o aumento das tarifas de ônibus, na avenida Paulista.

O diretor e roteirista Gabriel Di Giacomo tentou ouvir representantes da polícia e do governo paulista, o que certamente enriqueceria o filme, mas estes não quiseram se pronunciar.

O título do documentário alude a três cegueiras: a da violência dos policiais e de seus comandantes, a de Silva —que teve seus pedidos de indenização reiteradamente negados pela Justiça de São Paulo, sob o argumento de que o fotógrafo assumiu os riscos de seu ofício ao se colocar entre os manifestantes e a polícia— e a da própria Justiça paulista, que transformou a vítima em culpado.

Os depoimentos das vítimas e as filmagens de época formam um vasto catálogo de arbitrariedades, em flagrante desrespeito das próprias normas da PM, como o filme enfatiza inúmeras vezes. Vemos pessoas detidas sendo espancadas, pessoas que se manifestam pacificamente sendo alvo de munição de borracha em órgãos vitais, prisões ilegais, intimidações das mais diversas.

Entre os especialistas, destacam-se os aportes de Luiz Eduardo Soares, ex-secretário de nacional de segurança pública, e de Adilson Paes de Souza, tenente-coronel da reserva da PM, com mestrado em Direitos Humanos. Ambos têm uma visão muito lúcida do problema.

A PM foi criada em 1970, em plena ditadura, em moldes militares, ou seja, dentro de uma lógica de aniquilação do inimigo. Para os dois estudiosos, a polícia não tem essa função, mas garantir os direitos do cidadão. Não é possível construir uma democracia dessa maneira, daí a proposta de desmilitarização da PM defendida por ambos.

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