Descrição de chapéu Obituário Paul Virilio (1932 - 2018)

Morre Paul Virilio, filósofo da aceleração do mundo, aos 86 anos

Pensador escreveu mais de 30 livros sobre temas como ecologia, ocupação do espaço público e revolução digital

Paul Virilio na Fundação Cartier, em Paris, em 2002 - Daniel Janin/AFP
Lucas Neves
Paris

Morreu, aos 86 anos, o urbanista e filósofo francês Paul Virilio. Segundo comunicado divulgado pela família nesta terça (18), ele sofreu uma parada cardíaca no dia 10 de setembro. O local da morte não foi informado.

Virilio ganhou projeção no fim dos anos 1970 com a publicação do ensaio “Vitesse et politique” (velocidade e política), em que investigava os efeitos da aceleração da vida cotidiana no século 20 sobre o ambiente, o homem e a geopolítica.

Em entrevista de 2010 ao jornal Libération, ele destrinchava o que via como traço distintivo da contemporaneidade:

“Nossa compreensão das escalas de tempo e distância foi revirada, e a terra ficou pequena demais para o progresso [...] o mundo reduzido a quase nada pela velocidade das transmissões, a um ínfimo pela velocidade supersônica. Não se trata de acreditar no fim do mundo, no apocalipse, mas estamos diante de uma singularidade absoluta. Precisamos de uma visão ‘revelacionária’, e não mais revolucionária”.

Em entrevista à Folha, em 2004, traçou um quadro sombrio para o século 21. "Na dimensão suicida do novo terrorismo, [o terrorista] pode ser qualquer pessoa. Passamos da Guerra Fria ao pânico frio."

Autor de mais de 30 outros livros sobre temas como ecologia, ocupação do espaço público e revolução digital (além de ter sido objeto de compilações de entrevistas), o pensador interessava-se sobremaneira pela 2ª Guerra Mundial (1939-45).

Nascido em Paris, ele contemplou os estragos do conflito em Nantes (oeste da França, onde cresceu), bombardeada em duas datas de setembro de 1943. Dali viria seu conceito de “estética do desaparecimento”.

“A arquitetura me atrai porque sou uma criança da guerra. A destruição de uma cidade como Nantes foi para mim como uma revelação da relatividade das construções. A partir daí, tive vontade de trabalhar com a resistência, mas a resistência arquitetônica, aquilo que aguenta, que dura: a cidade”, disse, em 2004, a um programa da rádio France Culture.

Mas sua flor de obsessão seria mesmo a velocidade e seu rastro de desagregação. Na entrevista de 2010 ao Libération, ele se espantaria com o que identificava como “sincronização da emoção, mundialização dos afetos”.

Para ele, “simultaneamente, em qualquer lugar do planeta, cada um pode sentir o mesmo terror, a mesma inquietude pelo que está por vir, e experimentar o mesmo pânico; é inacreditável!”. Diante disso, concluía o filósofo, teríamos passado da “padronização das opiniões —possibilidade pela liberdade de imprensa— à sincronização das emoções”, de uma “comunidade de interesses para um comunismo de afetos”.

Segundo a família, Virilio estava trabalhando em um livro inédito e começando a conceber uma exposição na Fundação Cartier, onde foi curador de várias mostras nas últimas décadas.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.