Descrição de chapéu Moda

Descobri que a SPFW é feira de negócios comum e que aceita os gordos

Até a excentricidade dos visitantes se encaixa; é só trocar o fashionista pelo caubói da exposição agrícola

Marcos Nogueira
São Paulo

“Aquela menina precisa de um prato de comida” é o pensamento que me vem à cabeça quando eu olho para as magricelas que desfilam pela São Paulo Fashion Week —na passarela e fora dela.

E não é que elas comem de vez em quando?

A estrutura da SPFW na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, inclui uma praça de alimentação enxuta e bem montada. São quatro food trucks que vendem de hambúrguer a refeições veganas.

Observar a clientela dessa praça diverte nos primeiros minutos. Tem a modelo varapau. O homem de vestido. A jornalista com óculos maiores do que o rosto. O sujeito que veste calça e camisa com a mesma estampa. “Perdão, senhor, receio que você tenha saído de pijama para a rua.”

Tem até gente gorda, ufa. Descobri que o mundo fashion aceita os gordos, desde que sejam tatuados.

Aos poucos, o entretenimento arrefece. Aquele pessoal diferenciado come de boca aberta, se lambuza, baba, derruba mostarda no modelito. Como todo indivíduo normal quando encara um cheeseburger cheio de maionese.

Aí você olha ao redor e enxerga através do verniz: a SPFW é uma feira de negócios como qualquer outra.

Por falta de oportunidade, eu nunca havia posto os pés na semana da moda paulistana. Mas já fui a um punhado de feiras. À feira das sementes e mudas de Holambra. À exposição de maquinário para a indústria alimentícia no Anhembi. A incontáveis encontros de cerveja e de vinho.

Quem foi a uma feira dessas foi a todas.

A fórmula é sempre a mesma. Até a excentricidade dos visitantes se encaixa no esquema.

Na exposição agrícola, são caubóis com chapelão e cinto de fivela gigante. No evento cervejeiro, barbudos de camiseta preta e lóbulo auricular alargado. Ninguém tem moral para chamar de esquisitos os fashionistas.

Fora do espaço dos desfiles, repetem-se os clichês das feiras de negócios.

Há os estandes dos patrocinadores. Não são os tratores John Deere, são empresas dos setores de moda e de luxo —o que não faz a mínima diferença. É tudo igualmente chato e impessoal.

Como em qualquer feira, os estandes mais ricos têm dimensões titânicas. E fazem barulho. A cada meia hora, o chão treme com o som do heavy metal que sai do espaço de uma marca de SUVs. O ruído acaba em poucos minutos, mas permanece o zumbido nos ouvidos. Pobre da menina que vende sorvetes bem ao lado dos alto-falantes.

Como em qualquer feira, os expositores contratam moças bonitas para chamar o público. No caso particular da SPFW, mulheres uniformizadas como comissárias de bordo não ornam demais com o conjunto.

Como em qualquer feira, há uma sala para simpósios e oficinas. Anteontem, às 16h, o tema da palestra seria Conexão com as Plantas.

Como em qualquer feira, há a área de alimentação. A diferença é que, na SPFW, ela é frequentada por modelos. E modelos, surpreendentemente, comem hambúrguer.

Não posso afirmar com certeza, mas tive a forte impressão de que elas também fazem cocô. Isso porque flagrei algumas entrando num ambiente cheio de pias e vasos sanitários. Como qualquer feira, a SPFW tem banheiros.

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