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Cultura do gueto sai das sombras ao questionar gênero e raça na noite

Notívagos da Batekoo e rainha do dancehall unem periferia e classe média com discursos identitários

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Da esq. para a dir., Artur Santoro, Juju ZL e dj Kiara, membros do coletivo Batekoo, que promove festas em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte. Eles posaram para o fotógrafo Agosto1993 no topo do edifício da

Da esq. para a dir., Artur Santoro, Juju ZL e dj Kiara, membros do coletivo Batekoo, que promove festas em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte. Eles posaram para o fotógrafo Agosto1993 no topo do edifício da "Folha", na região central de São Paulo Agosto1993/Folhapress

São Paulo

Assim como as raízes da cultura “underground” americana definiram os padrões de comportamento e de vestimenta da juventude local, as cenas cultural e noturna do Brasil fiam sua própria estética “empoderada” na influência sobre jovens daqui.

São Paulo passou a congregar diferentes personagens, saídos das regiões periféricas do estado, que encontram na região central uma paisagem de festas pulsantes, vinculadas à música black, como a Mamba Negra e a Batekoo.

Este último, um coletivo formado por notívagos que não se sentiam representados nas festas do segmento, “na maioria das vezes excludentes com os LGBTs”, como define um dos cabeças do grupo, Artur Santoro.

Cansados dos efeitos “gourmetizadores” da gentrificação na região do Baixo Augusta, que, segundo ele, “deixou de ser underground há muito tempo, quando suas casas passaram a só tocar pop e rock”, entraram no circuito alternativo do centro e logo atraíram uma multidão de gays, lésbicas e trans para noites animadas ao som de batidões, divas e toda a sorte de rimas, do hip-hop ao twerk.

É nas festas desse coletivo que se escancara o quão plural a noite paulistana está, mais uma vez, voltando a ser. 

“A grande questão é que não há julgamentos. Eu, que sou gorda, nunca me sentia à vontade para usar a roupa que queria. Agora, se eu quiser tirar a roupa, ninguém olha para mim”, diz Juju ZL, uma das parceiras performáticas do grupo junto à DJ trans Kiara.

Kiara diz que uma das características mais notáveis do tipo de liberdade proporcionado pela festa é a enorme quantidade de “bichas cebola”. “Aquelas que, por medo de se mostrarem, se escondem em camadas de roupa e, no caminho para a festa, vão tirando, tirando, até mostrarem quem são”, explica a DJ.

Com apenas quatro anos, a festa ganhou documentário, o “Inspire The Night: Batekoo”, que será lançado na próxima terça-feira (27), dentro da programação do Red Bull Music Festival.

No mesmo festival, só que no sábado (24), um dos personagens mais importantes dessa cena do gueto paulistano subirá ao palco. 

Tida como a rainha do dancehall, um gênero criado na Jamaica e que consiste em improvisos e batidas inspiradas no reggae, Lei Di Dai representa uma geração de artistas que ascenderam do gueto ao mainstream. Só que o internacional, porque, segundo ela, “o Brasil ainda olha pouco para dentro da periferia”.

Com três turnês internacionais e uma indicação ao VMB 2009, a “garota que faz as suas leis”, segundo ela própria se define, sagrou-se a imagem do “gueto empoderado”. 

“A música negra no Brasil sempre foi muito masculina, e as próprias referências musicais e de estilo vieram da estética dos homens. Eu cheguei para organizar o negócio, desvirtuar a imagem de que mulher no Brasil, principalmente a da periferia, tem que casar, ter filhos e só”, diz ela.

Tem dado o que falar o projeto “Gueto pro Gueto Sistema de Som”, criado pela cantora para promover um retorno às suas origens e permitir que “não apenas a classe média tenha acesso a música”.

Amante de moda e parceira de marcas esportivas, que disponibilizam tênis e acessórios para shows, ela mesma cria os looks que, afirma, “o povo adora copiar”.

“Ganhei visibilidade com as gordas, porque incentivo elas a se amarem. Esse é meu estilo, fazer as meninas se amarem”, diz Lei Di Dai.

Fotógrafo reverencia cenas urbanas e vira promessa da moda

A moda da rua está no centro do trabalho de Marcelo Moraes, 25, fotógrafo carioca radicado em São Paulo que ganhou fama no circuito alternativo sob o codinome 1993Agosto, referência ao ano e ao mês em que nasceu.

Os anos 1990 e a cultura “street” inspiram sua luz, que já iluminou de Mano Brown, líder dos Racionais MC, ao da rapper Karol Conká. Vindo da periferia de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a estética dos guetos conquistou a moda e ele já assina trabalhos para publicações e marcas.

Autor das imagens desta matéria, ele diz ter criado sua estética baseado “em fotos analógicas que fazia na adolescência”.

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