As primeiras três temporadas de “Narcos” se passaram na Colômbia, país de Pablo Escobar, o traficante internacional mais famoso do mundo. Escobar foi o criador do primeiro cartel, o de Medellín, ficou bilionário no processo e teve uma vida espalhafatosa.
Ele é o protagonista das duas primeiras levas de episódios, que seguem seus passos desde que era um ladrão comum até virar o bandido mais procurado do planeta e ser morto numa perseguição policial.
A terceira temporada, a mais fraca, mostra como o cartel de Cali, outra cidade colombiana, se ergue depois da destruição do cartel de Medellín.
Os dez novos episódios, mais atuais, tratam da formação do cartel de Guadalajara e de como o México dominou as rotas de entrada da cocaína para os Estados Unidos.
A estrutura é parecida com a da primeira temporada. Estranhamente, o mesmo policial americano, Steve Murphy, explica em off os eventos. Só que ele não está em cena, pelo menos nos cinco primeiros episódios disponibilizados pela Netflix para a reportagem, o que faz com que a narração fique um tanto sem sentido.
A série também se serve da mesma maneira de contar a história. De um lado, um agente americano de raízes mexicanas incorruptível, Kiki Camarena (Michael Peña), transferido para Guadalajara contra a sua vontade. De outro, o traficante Félix Gallardo (Diego Luna), que começa a se tornar importante quando se junta a Rafa Quintero (Tenoch Huerta), o criador da maconha sem semente, a sinsemilla, mais forte que a original.
O problema da nova maconha é que ela é fruto apenas dos arbustos fêmeas, e precisa ser plantada longe dos machos, ou acaba sendo polinizada e volta a ter tanto as sementes quanto a potência diminuída. Para garantir que sua erva mantenha a qualidade, Rafa sugere a Félix que faça sua plantação no deserto, longe de qualquer outra.
O plano dá certo e Félix resolve juntar toda a concorrência, tornando-se chefe de todos os traficantes que costumavam brigar entre si. Enquanto isso, Kiki Camarena sofre com um sistema corrupto, em que os policiais trabalham para os traficantes.
A cocaína entra bem mais tarde, quando Félix já é um traficante milionário e percebe a enormidade do negócio em que não está metido, interessando-se na hora por ele.
O drama e o suspense do tráfico já deram origem a grandes personagens, reais e fictícios, como Walter White, de “Breaking Bad”, e Tony Montana, de “Scarface”. Félix Gallardo de Diego Luna não vai ser memorável como esses, assim como não foi em vida tão conhecido como Pablo Escobar. De perfil mais discreto, o resultado de uma história com ele como protagonista é também mais sem graça.
O mesmo acontece com o policial que o persegue. Ao contrário dos mal comportados Steve Murphy e Javier Peña , da perseguição a Escobar, Kiki Camarena é um policial pacato, mais família, menos cheio de conflitos. Ainda que a guerra das drogas no México seja a mais sangrenta até hoje, o jogo de gato e rato desta temporada é o menos intenso.
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