Descrição de chapéu Artes Cênicas

Mesmo faltando calor e ímpeto, ópera 'Turandot' arrebata público

Obra derradeira de Puccini ganha encenação ambiciosa no palco do Municipal de SP

Camila Fresca
São Paulo

“Nessun Dorma” é uma das árias mais famosas do repertório lírico. Admirada pelo público de ópera, ganhou popularidade mundial na década de 1990 com Luciano Pavarotti e seu grupo Os Três Tenores.

A ária é o ponto culminante da ópera “Turandot”, obra que o Theatro Municipal de São Paulo escolheu para encerrar a sua temporada lírica.

elenco de turandot
Elenco encena 'Turandot', do italiano Puccini, no Municipal  - Fabiana Stig/Divulgação

Com casa lotada e público entusiasmado, a estreia na semana passada mostrou uma grande produção, com mais de 170 artistas no palco, e direção cênica de André Heller-Lopes. A direção musical é do maestro Roberto Minczuk, que está à frente da Orquestra Sinfônica Municipal. 

Completam o time o Coro Lírico, com regência de Mário Zaccaro, e o Coral Paulistano, sob direção de Naomi Munakata.

Um dos maiores mestres da ópera italiana, considerado o herdeiro de Giuseppe Verdi, Giacomo Puccini não teve tempo de concluir “Turandot”. 

Baseada em uma velha lenda chinesa, a obra foi adaptada para o teatro no século 18 por Carlo Gozzi e já havia inspirado uma dezena de autores de óperas até despertar a atenção do compositor. 

Depois da morte de Puccini, seu aluno Francesco Alfano completou as últimas páginas da partitura. Mais tarde, Toscanini revisou o trabalho de Alfano, fazendo uma versão mais enxuta, que é a comumente apresentada.

Essa última ópera de Puccini é também a mais bem acabada, com estrutura harmônica rica e audaciosa, em estrito diálogo com as situações dramáticas. Aqui já não se tem mais o autor verista, mas sim um compositor que, se está longe da vanguarda, dialoga com a música de seu tempo. 

“‘Turandot’ tem uma força na história da ópera como poucas obras têm. É de uma inspiração e criatividade inacreditáveis. Puccini conhecia muito bem Debussy, Wagner, Stravinsky e Schoenberg. Ele incorpora ideias de vários compositores mas as trata como suas. ‘Turandot’ é impressionista, moderna, é a coroação de uma carreira única”, afirma o maestro Roberto Minczuk.

Na estreia, a soprano americana Elizabeth Blancke-Biggs encarnou a princesa Turandot. De beleza lendária, ela submete seus pretendentes a um teste. Aquele que acertar obterá a mão da princesa e, com ela, o trono da China. Mas, se falharem, estarão condenados à morte. 

Algumas dezenas de pretendentes já haviam sido malsucedidos até a chegada de Calaf, que vence o desafio —o personagem ficou a cargo do tenor canadense David Pomeroy. 

São solistas de vozes poderosíssimas e boa atuação cênica, mas faltou alguma sutileza nas partes mais líricas. 

Nesse sentido, a grande ária de Calaf, “Nessun Dorma” foi quase um anticlímax —apesar de bem executada tecnicamente, careceu de calor e ímpeto. 

Sutileza e calor na interpretação não faltaram à personagem Liu, da soprano brasileira Gabriella Pace. Ela encerra uma grande temporada, na qual também brilhou no papel título de Kátia Kabanová, no Theatro São Pedro. 

O desempenho vocal dos demais solistas também foi muito bom, com uma relação equilibrada entre as 
suas vozes no palco.

André Heller-Lopes optou uma montagem que preserva as características originais do enredo e que resultou em grande beleza cênica. 

“Não quis encenar esta ópera como uma peça naturalista ou mesmo dentro de um verismo melodramático, mas mergulhar nas cores da fábula, da fantasia, da commedia dell’arte e de toda teatralidade”, afirma. “Turandot”, segue em cartaz até o dia 25 de novembro, alternando elencos a cada apresentação.

Turandot

  • Quando Seg. (19), às 20h, qua. (21), às 20h, qui. (22), às 20h, sáb. (24), às 20h e dom. (25), às 18h
  • Onde Theatro Municipal, pça. Ramos de Azevedo, s/nº
  • Direção André Heller-Lopes e Roberto Minczuk
  • Música Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, Coro Lírico e Coral Paulistano

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