Banqueiro eleito presidente da Bienal está otimista com governo Bolsonaro

Para José Olympio da Veiga Pereira não é necessário um ministério para que cultura seja valorizada

Gustavo Fioratti
São Paulo

Que papel a Fundação Bienal pode cumprir além de realizar suas já reconhecidas exposições bianuais?

José Olympio da Veiga Pereira, eleito nesta terça o próximo presidente da instituição responsável pela mais importante mostra de artes do país, tem ao menos uma resposta para essa questão.
 

Olympio assumirá o cargo no próximo dia 2 tendo em mente que a Bienal deve dedicar mais empenho à criação de ferramentas voltadas para a preservação da memória das artes, ampliando o papel do principal arquivo histórico da fundação, o Wanda Svevo, que foi criado nos anos 1950. 

Em entrevista à Folha, Olympio preferiu não dar mais detalhes sobre os dois anos de gestão que vê pela frente (com possibilidade de reeleição por mais dois anos). Presidente do Credit Suisse no Brasil e dono de uma das maiores coleções de arte do país, ele expressa otimismo com o primeiro ano do mandato de Jair Bolsonaro (PSL), especialmente em relação ao comportamento de investidores no mercado financeiro.

O banqueiro, porém, demonstra mais cautela quando fala sobre o cenário cultural. "Acho que é cedo para falar algo, nós precisamos saber quem será o secretário de Cultura", diz, ao ser questionado sobre a extinção do Ministério da Cultura prevista para o início de 2019 e a criação de uma secretaria voltada ao setor dentro da pasta da Cidadania. 

"Acho que a cultura pode ser valorizada independentemente de estar debaixo de um ministério ou de uma secretaria. É importante lembrar que por muito tempo a cultura esteve subordinada à pasta da Educação", diz.

Olympio não comenta os ataques de Bolsonaro e de correligionários do presidente eleito à Lei Rouanet, ferramenta de subsídio utilizado não apenas pela Fundação Bienal desde a criação da legislação nos anos 1990, mas também por eventos diversos realizados no prédio da Bienal, no parque Ibirapuera, a exemplo da feira SP Arte. 

Ele se restringe a dizer que considera a Rouanet uma lei "fundamental para o financiamento da produção cultural no Brasil" e que não está bem informado sobre as intenções do novo governo a ponto de poder comentá-las. 
 

Bolsonaro vem expressando descontentamento especialmente sobre as dificuldades que pequenos produtores de arte e que artistas pouco famosos têm de fazer uso da lei. Para o presidente eleito, a Rouanet privilegia um mercado que poderia andar com as próprias pernas, inclusive com a possibilidade de produzir receita.

homem grisalho de barba com gravata vermelha
O banqueiro e novo presidente da Fundação Bienal José Olympio da Veiga Pereira - Zanone Fraissat /Folhapress

A eleição de Olympio pelo conselho da Bienal também foi acompanhada de uma questão específica sobre o perfil do novo presidente. Existiria conflito de interesse em dar o cargo a um dos principais colecionadores do país? As escolhas de curadores poderiam, por exemplo, estar em sintonia com o perfil da coleção de Olympio, determinando sua valorização?

O próprio banqueiro admite que o conflito existe. Ele afirma que essa questão o acompanha por mais de 20 anos, desde que passou a ser responsável pelas aquisições do Museu de Arte Moderna de São Paulo (entre 1999 e 2002).  

"A administração desse conflito é algo que já venho fazendo há 20 anos. Além disso, na Bienal, temos um código de conduta muito bem elaborado, que regula essas situações e que julga situações de potencial conflito de interesse. A junção da minha experiência em gerir potenciais conflitos com esse código de conduta me deixa muito confortável de que eles [os potenciais conflitos] serão bem gerenciados", diz.
 

Olympio assumirá a presidência da fundação em um contexto atípico. Desde o ano passado, exposições de arte e peças de teatro têm sofrido diversos ataques do público conservador, de grupos religiosos e até da Justiça. Os alvos principais são obras com nudez ou que tratam de temas relacionados à sexualidade e às questões de gênero.

Para o novo presidente da Bienal, essa questão tem de ser contornada com o respeito ao código nacional de classificação indicativa.

Ele defende que as exposições de arte tomem o cuidado de informar o público sobre expressões que possam ser consideradas inadequadas para crianças e adolescentes por exemplo. "Assim, o visitante pode decidir a que manifestação artística ele vai ser exposto ou não", completa.

Segundo Olympio, está no programa da Bienal anunciar, ainda antes de sua posse —provavelmente na próxima semana—, quais serão os artistas representados na Bienal de Veneza em 2019.

Ele diz que esses artistas já estão escolhidos e que o anúncio depende de acordos com o Ministério da Cultura e o Ministério das Relações Exteriores.  

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