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ETs estão populares na TV, com produções americanas e até uma brasileira

Sucesso acontece em uma era de crença renovada no terraplanismo e outros absurdos

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São Paulo

Aquele ponto inconstante que passa lá em cima pode ser um disco voador. Só que a imagem dele na TV desaparece rapidamente e deixa aqui na Terra um monte de gente com uma interrogação na cabeça. Deixa também alguns convictos.

Não é só com os crédulos que séries documentais como "De Carona com os Óvnis" e "Alienígenas do Passado", ambas exibidas pelo History Channel, estão falando. Também dialogam com o "público normal", afirma o produtor-executivo do primeiro título, Leo Sassen.

Dá para afirmar, com convicção, que os dois programas não estão sozinhos. Em uma época que trouxe o terraplanismo, o criacionismo e outras mitologias de novo à pauta, os ETs estão populares.

Em "Os Maiores Mistérios do Mundo", que passou na Nat Geo no último dia 22, há um episódio dedicado a explicar as teses sobre vida extraterrena. A Netflix também investiu no gênero, colocando a disposição títulos como "Extraordinary: The Stan Romanek Story" (2017), "Alien Contact" (2017), "Unacknowledged" (2017), um episódio da série "Eu Vi" (2018) e outro da série "Explicando" (2018).

São títulos que frequentemente trazem depoimentos de testemunhas e homens de terno, camisa social e gravata jurando que sabem de alguma coisa que o FBI documentou, mas que o governo está querendo esconder para não deixar a população em pânico.

São também obras produzidas nos Estados Unidos, com exceção de "De Carona com os Óvnis", que estreou há dois meses e é vendido como primeiro documentário de ETs feito por brasileiros no Brasil.

O filme se dedica a explorar os "hot spots", nome dado aos locais em que foram relatados, "ao longo de décadas", abduções, aparições de luzes no céu e desenhos enigmáticos em plantações. A série diz que o Brasil é um dos países com a maior concentração de "hot spots" do mundo.

Entre os lugares visitados pela equipe estão Itapoá (SC), Chapada Diamantina (BA), Peruíbe (SP), São Tomé das Letras (MG), Chapada dos Veadeiros (GO) e Minas do Camaquã (RS).

A série é apresentada pelo "mochileiro ufológico" Fred Morsch. No primeiro episódio, disponível no YouTube, investiga-se o caso da neblina alienígena e dos chupa-cabras, em Itapoá e Campina Grande do Sul (PR).

Haverá capítulos dedicados a um caso de "mineração extraterrestre", na Chapada Diamantina. Exatamente: eles estariam interessados nas nossas fontes de minério.

Sassen diz que o que facilitou o trabalho de sua equipe —e o que explicaria o volume de títulos acumulados hoje na TV— é o crescente acesso da população à tecnologia. Hoje todo mundo tem uma câmera na mão e uma ideia alienígena na cabeça. Boa parte do trabalho do produtor é ir a esses lugares mágicos e bater de porta em porta, procurando registros de terceiros.

Segundo Miguel Brailovsky, executivo do History, "Alienígenas do Passado", que trata de visitas extraterrenas em tempos remotos —para, por exemplo, produzir as pirâmides do Egito—, é "uma das cinco séries mais vistas do canal nos últimos anos". "Se falarmos sobre ratings, podemos dizer que a demanda é mais alta do que para muitas outras categorias de conteúdo", diz.

Ele não crava que os documentários oferecem provas da presença de ETs na Terra. "Para o público é uma maneira de brincar com perguntas provocativas, no contexto de credibilidade e objetividade que a marca History impõe", diz.

"Questionar sobre a possível presença de extraterrestres em culturas antigas é um exercício intelectual fascinante, mesmo quando a conclusão é negativa", diz Brailovsky.

Para o executivo, também se trata de uma categoria de programação "que gera fanatismo". "A interação em redes sociais sobre o tema extraterrestres na antiguidade é muito maior do que em outros temas abordados em nossa programação", afirma.

"Há uma combinação de ciência, mistério, investigação e perguntas sem respostas que se torna um ímã muito atrativo para o telespectador curioso", diz. O canal divulga que há séries novas sobre o assunto que chegarão no segundo semestre deste ano.

Faz parte do proselitismo de quem produz documentários que "revelam" a presença de ETs na Terra citar autores e políticos consagrados. Para dar sustentação a sua tese, "Unacknowledged", que fala de contatos de terceiro grau documentados pelo governo americano, cita Shakespeare: "Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa filosofia".

Também lembra, do último presidente da União Soviética, Mikhail Gorbatchov, a frase "o fenômeno dos óvnis existe e deve ser tratado com seriedade".

Já o filme "The Stan Romanek Story" recorre a Tomás de Aquino: "Não podemos ter todo o conhecimento de uma vez, precisamos começar acreditando, depois podemos ser levados a conhecer as provas por nós mesmos".

Entre as obras, há também aquelas que desmitificam as lendas da concorrência, mas sem muito ceticismo. "Há 10 mil estrelas para cada grão de areia da Terra. Uma estimativa conservadora diz que 5% delas são similares ao Sol, o que daria cerca de 500 quintilhões", diz o episódio sobre ETs da série "Explicando", da Netflix.

Para cientistas entrevistados pela série, esse número é suficiente para atestar que, sim, nós não estamos sozinhos. As estatísticas incluem vida inteligente.

Em 2018, também se multiplicaram, no YouTube, vídeos que repercutem a passagem do asteroide Oumuamua próximo ao Sistema Solar. Cientistas de Harvard, por causa do formato e do tipo de movimento do corpo celeste, divulgaram a possibilidade de que ele era indício de vida extraterrena. Foi o suficiente:

Astrólogos e ufólogos do mundo todo começaram a postar vídeos didáticos, apresentando argumentos pró e contra a teoria.

Quem venceu? Até agora, não existe, para além das montanhas de evidências apresentadas por documentários do gênero, uma única prova de vida inteligente lá fora.

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