Quem não sabe quem é Carlos Walker e seu disco de 30 mil ienes pode descobrir neste sábado

Autor do psicodélico 'A Frauta de Pã', com arranjos de Radamés Gnattali, toca no Sesc Belenzinho

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Rio de Janeiro

No catálogo da grande rede japonesa Disk Union, o LP “A Frauta de Pã”, de Carlos Walker, aparece custando 30 mil ienes. O valor equivale a US$ 270, ou seja, cerca de R$ 1.000.

Quem não sabe e quer saber do que se trata o valorizado disco e quem é Carlos Walker pode descobrir neste sábado (23), no Sesc Belenzinho, às 21h. O cantor interpretará as 11 músicas no projeto Álbum. As faixas também estão no YouTube.

O músico e astrólogo Carlos Walker, que se apresenta no Sesc Pompeia
O músico e astrólogo Carlos Walker, que se apresenta no Sesc Belenzinho - Reprodução

Com título inspirado no poema homônimo de Cassiano Ricardo, o LP de 1975 foi incluído pelo jornalista Bento Araújo no livro “Lindo Sonho Delirante: 100 Discos Psicodélicos do Brasil”, o que dá uma ideia do seu clima. “Parece a trilha sonora de um sonho”, diz Araújo.

Somando-se a isso o fato de Walker ser um conhecido astrólogo, fica indicado o caráter etéreo, talvez cifrado, do trabalho. É meia verdade.

O repertório tem duas composições da dupla João Bosco-Aldir Blanc, incluindo a primeira gravação de “O Cavaleiro e os Moinhos”; uma de Caetano Veloso, “Um Dia”, e outra de Eduardo Souto Neto e Geraldo Carneiro, “Debaixo do Sol”. Há um poema de Cecília Meireles, “Modinha”, musicado por Walker. E outra faixa criada por ele, “Alfazema”, fez grande sucesso quando lançada.

Quatro arranjos são de um dos maiores orquestradores brasileiros, Radamés Gnattali. Entre os músicos participantes estão Hélio Delmiro e João Bosco. Não é, portanto, um disco de doidões para doidões.

“Ele foi muito bem recebido pela crítica, mas não vendeu”, recorda Walker, de Jundiaí, no interior paulista, onde mantém sua escola de astrologia. “Quiseram, então, por causa da minha voz sem gênero definido, que eu me transformasse numa coisa andrógina, uma espécie de segundo Ney Matogrosso. Mas eu queria ser Edu Lobo. Minha intuição pisciana me disse logo que eu não ia ter cabeça para segurar.”

Walker —que completa 64 anos em março— gravou apenas mais dois discos: “Onda” (1987) e “O Fio da Canção” (2008). O primeiro, com canções de Tom Jobim, teve uma espécie de coprodução de João Gilberto, que acompanhava tudo por telefone. 

Os dois conviveram por um ano e fizeram até uma parceria, “Regata”. O apelido virou nome artístico na capa: Wauke (o w com som de v).

“Fui viver de astrologia. Mas, de vez em quando, a abóbora virava carruagem. Talvez agora seja outro momento desses. Mas eu estava quieto no meu canto. Eles [o Sesc] me procuraram dizendo: ‘é um disco icônico’.”

Consultada pela Folha, a Sony, dona do acervo da antiga gravadora RCA, confirmou o que nunca confirmara a Walker: a matriz do disco existe. Um relançamento torna-se possível.

Seria um prêmio para o carioca que, morando em Santos, no litoral paulista, ganhou um festival aos 14 anos e chamou a atenção de Elis Regina. Impulsionado por ela, sonhou viver de cantar, o que não se mostrou viável.

“Não tenho amargura. Música, para mim é da contemplação, da beleza, do sagrado. Não é do comércio, da indústria. Sempre fugi do sucesso”, diz ele.

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