Pouco tempo depois de "Querido Menino", longa-metragem de Felix van Groeningen, chega aos cinemas brasileiros "O Retorno de Ben", escrito e dirigido por Peter Hedges e com o mesmo tema: uma família às voltas com um filho viciado em drogas.
Ao contrário de Groeningen, que aposta na descontinuidade da ação para embaralhar as peças preguiçosamente e prejudicar a ótima interpretação de Steve Carell, Hedges aposta na narrativa linear e, com isso, o drama fica pungente.
Ben (Lucas Hedges, filho do diretor) volta para passar o Natal em casa, para a felicidade da mãe, Holly (Julia Roberts) e dos dois irmãos pequenos, filhos do segundo marido de Holly, mas para a desconfiança de sua irmã Ivy (Kathryn Newton), com quem divide os mesmos pai e mãe.
Ele volta de uma temporada numa clínica de recuperação, após quase ter morrido de overdose no Natal passado. Promete que está fora de perigo e que seu cuidador permitiu que ele estivesse lá.
Logo percebemos que o rapaz esconde alguma coisa, enquanto Neal (Courtney B. Vance), segundo marido de Holly, concorda com Ivy em achar que o retorno de Ben ocorreu cedo demais.
Aos poucos, percebemos, um pouco antes da mãe, que as coisas que Ben esconde têm relação com um passado terrível, motivado pelas drogas.
Saber o que mais ele esconde e se está mesmo sem consumir drogas há 77 dias, como diz, é o maior dos problemas de Holly e dos familiares. Até que, na antevéspera do Natal, após uma ida de toda a família à igreja, eles encontram a casa completamente revirada e percebem o sumiço do cachorrinho de estimação, que atende pelo nome de Ponce.
Ben sai pelas ruas geladas à procura de Ponce. Holly o persegue, descobrindo, aos poucos e com os espectadores, em que encrencas seu filho está metido.
Não totalmente bem-sucedido, pois o trabalho com a câmera poderia ser um pouco mais caprichado, o filme tem algumas coisas interessantes, sobretudo na interpretação de Julia Roberts, que cria uma Holly impressionante, ora neurótica, ora sensível.
Outro fator de interesse é a maneira como Ivy, a irmã, representa a consciência da família e do filme, aquela que controla o que deve ser informado e o que deve ficar para depois, quando se deve combater e quando se deve analisar os acontecimentos.
No balanço, ficamos suficientemente interessados na trama a ponto de nos envolver com os personagens —sobretudo com Holly, mais do que com Ben.
Afinal, o filme não trata só do vício em drogas pesadas. Fala também da maternidade e de seus desafios.
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