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'Querido Menino' aborda o vício sem tom moralizante

Apesar de seguir a fórmula de filme de Oscar, do qual ficou de fora, drama traz aspectos que o diferenciam

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Querido Menino (Beautiful Boy)

  • Classificação 14 anos
  • Elenco Steve Carell, Timothée Chalamet, Maura Tierney, Amy Ryan
  • Produção EUA, 2018
  • Direção Felix van Groeningen

Os dramas de família agravados por doenças, vícios e mortes acumularam tantas indicações e vitórias nas dezenas de entregas do Oscar que causa estranheza a ausência de “Querido Menino” na disputa deste ano. Um jovem consumido pelas drogas e um pai amoroso que faz tudo para salvar o filho é uma combinação de tema grave com emoções fortes que a Academia sempre valorizou.

Apesar de seguir a fórmula de filme de Oscar e de estrear às vésperas da cerimônia, o longa dirigido pelo belga Felix van Groeningen também se diferencia desse tipo de drama intenso que, depois de algum tempo, confundimos com centenas de outros.

A temporalidade não linear é o primeiro aspecto que distingue o filme. A narrativa por meio de fragmentos desordenados do presente e de fases do passado revela características importantes da personalidade de Nic (Timothée Chalamet) e nos leva a reconstruir o personagem e suas fissuras como num quebra-cabeças.

O mesmo procedimento agrega camadas à figura do jornalista David Sheff (Steve Carell), que se esforça para compreender racionalmente os mecanismos da dependência do filho enquanto é arrastado pelas emoções duras.

O equilíbrio entre sobriedade e picos de descontrole nos desempenhos de Chalamet e Carell impede o longa de cair na vala comum dos dramalhões. A contenção também atrai o interesse mais para o relevo psicológico do drama do que só para a qualidade das performances.

Tais cautelas levam “Querido Menino” a se distinguir no nicho das histórias de vício, que com frequência tropeçam na mensagem moralizante. Alcoolismo, drogas ou dependências químicas e físicas costumam ser tratadas pelo cinema apenas de ângulos negativos, como abismos que consomem os personagens.

A distância que Groeningen toma do material original, as memórias reais de Nic e David Scheff, introduz nuances nesse padrão. O mais relevante é o espaço dado à dimensão prazerosa da droga, algo que os filmes tendem a anular quando priorizam as desordens e a destrutividade da dependência.

Sem apelar para a óbvia sensorialidade psicodélica, as cenas que traduzem a “viagem” química revelam como o prazer é fundamental para entender a experiência. Sem ele, as tentativas de retratar as drogas ou os vícios têm o mesmo efeito dos sermões.

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