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Temporada Cultura Artística inicia com diálogo camerístico maduro

Duo entre Cristian Budu (piano) e Antonio Meneses (cello) é também uma conversa entre gerações

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Cristian Budu (piano) e Antonio Meneses (cello)

  • Quando Quarta (20), às 21h
  • Onde Sala São Paulo (pça Júlio Prestes, 16, Campos Elíseos)
  • Preço R$ 75 a R$ 600​.
  • Classificação 7 anos

Depois do intervalo o som estava ainda mais envolvente. Não que a primeira parte tivesse tido algum problema: a "Sonata n.2" para violoncelo e piano de Villa-Lobos (1887-1959) havia encerrado a sessão com interpretação transparente, atenta a uma escrita que ressalta a individualidade de cada instrumento.

É uma obra forte da primeira fase do compositor, na qual um discretíssimo elemento nacional funde-se integralmente à harmonia impressionista. Muito antes de sua primeira viagem à Europa, Villa-Lobos já estava à vontade em Paris.

Mas na segunda parte do recital —que marcou a abertura da temporada 2019 da Cultura Artística na terça-feira (19) na Sala São Paulo— o som do piano de Cristian Budu contornava ainda mais o brilho matizado do violoncelo de Antonio Meneses.

O violoncelista Antonio Meneses - Divulgação

A ambiência ressaltou detalhes do duo, como igualdade nas articulações das semicolcheias do allegro final da "Sonata" em ré maior de Bach (1685-1750).

Eles fizeram as três sonatas (BWV 1027, 1028, 1029) que o compositor alemão escreveu para viola da gamba e cravo e, de Villa-Lobos, além da obra original, versões dos movimentos mais conhecidos das "Bachianas Brasileiras n.5" ("Aria") e n.2 ("O Trenzinho do Caipira").

Aos 30 anos, Cristian Budu tem sabedoria camerística. Seu som mantém uma aura arredondada, que não se altera mesmo com os câmbios súbitos de articulações e de dinâmica. 

Aos 61, Antonio Meneses segue como militante da elegância e da serenidade. Sua arte sustenta a poesia sem necessitar de arroubos excessivos. A "Aria" das "Bachianas n.5" foi tocada como se apenas desenhasse as frases no ar, deixando a dramaticidade apenas para a segunda seção.

 

O crítico Harold Bloom costuma dizer que a arte reverte o tempo, fazendo o poeta mais jovem parecer antecessor do mais velho. 

Isso pode ocorrer também na performance da música de câmara: no adagio da "Sonata" BWV 1028 de Bach o rosto de Meneses brilhava como o de uma criança que aprende algo novo, enquanto que, circunspecto, o jovem pianista tomava conta de tudo, apenas zelando para que a magia pudesse seguir adiante. 

O pianista Cristian Budu - Zanone Fraissat - 15.ago.2016/Folhapress
 
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