Cristiano Mascaro celebra 50 anos de carreira sem olhar muito para trás

Em retrospectiva no Sesc Pinheiros, maioria das fotografias foram feitas ao longo da última década

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Seven - Escultura de Richard Serra em Doha, Qatar

Seven - Escultura de Richard Serra em Doha, Qatar Cristiano Mascaro/Divulgação

São Paulo

Cristiano Mascaro celebra 50 anos de carreira sem olhar muito para trás. E não é porque as imagens mais antigas e conhecidas do fotógrafo estejam desgastadas.

Pelo contrário. No Sesc Pinheiros, onde o artista expõe 180 imagens de sua trajetória, a faceta jornalística de Mascaro, dos anos 1960 e 1970, surpreende tanto quanto a sua potente produção arquitetônica, cheia de sombras e linhas de São Paulo e outras cidades.

Só que Rubens Fernandes Jr., curador da mostra, com quem o fotógrafo guarda muitas semelhanças físicas, quer mostrar não só o percurso da carreira de Mascaro, mas também a produção mais recente do artista, que, aos 74 anos, segue trabalhando.

 

Por isso, 70% da retrospectiva é dedicada a fotografias realizadas nos últimos dez anos, pouco exibidas ou publicadas apenas em livros fora do país.

É o caso de um conjunto de imagens na Polônia ou dos registros das esculturas monumentais de Richard Serra, realizados a partir de encomendas do artista americano.

Há também seis fotografias feitas com celular —três delas em São Paulo e três em Nova York. Ainda que não use as câmeras de médio e grande formato que o notabilizaram, Mascaro continua a apresentar o rigor formal e a obsessão por composições geométricas que o marcaram em todos os suportes.

Nos cerca de 600 metros quadrados da exposição, dividida por biombos de diferentes tons de cinza formando um labirinto, Mascaro se apresenta sobretudo como “um fotógrafo de calçada, de rua”.
“Muita gente acha que a minha curiosidade de desvendar a vida urbana vem da formação de arquiteto.

Isso contribuiu, claro, mas a descoberta aconteceu na época em que andava a pé”, diz ele. “Hoje, ao contrário, a gente sai com o vidro fechado da garagem. Muitas vezes já tem congestionamento, e você só vai despertar na garagem do escritório.”

A mudança na relação com a cidade também afetou sua maneira de trabalhar. Se há 40, 50 anos, fazer retratos era simples —“batia na porta e entrava nas casas”—, hoje “ninguém quer ser fotografado”.

Antes de se deixar tomar pela “frustração”, como ele mesmo define, Mascaro fotografou muita gente, como os imponentes carregadores de sacos de farinha e uma garota de véu, rezando, cujas mãos no rosto deixam apenas um dos olhos expostos, mirando o fotógrafo, cena evidentemente bressoniana.

Foi naquela época, também, que Mascaro deixou de lado as câmeras 35 mm, leves e ágeis, próprias de flagrantes. Ele e o fotógrafo Pedro Martinelli haviam recebido a encomenda de documentar o bairro do Brás a pedido de José Mindlin, então secretário de Cultura de São Paulo.

Mascaro queria fazer imagens diferentes e passou então a usar uma Hasselblad, o que acabou definindo sua maneira de olhar as cidades. Ao preferir uma câmera de médio formato, pesada, que precisa de um tripé, o artista também mudou a velocidade com que observa suas cenas.

Daí vem as fotografias que marcam o imaginário da cidade de São Paulo em décadas passadas. A avenida São João vista de cima, com um facho de luz cortando o centro da cidade. Ou então as escadarias impressionantemente simétricas da galeria Presidente, que mais parecem uma ilustração do artista holandês M. C. Escher, e o posto de gasolina na marginal Pinheiros.

Ainda que a exposição também revele outros aspectos de Mascaro, como naturezas mortas, expostas numa seção que o curador classifica como “inclassificável”, é a arquitetura que domina grande parte da retrospectiva. 

Lado a lado, imagens se unem em jogos visuais, seja pela continuidade de linhas ou pela contraposição de formas. O visitante atento pode gastar um bom tempo buscando conexões entre as obras.

“Mascaro registra pequenos fragmentos do espaço urbano, situações visuais fantásticas”, afirma Fernandes Jr. “Mas o rótulo de fotógrafo de arquitetura, de cidade, é pouco.”

Cristiano Mascaro

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