Descrição de chapéu Artes Cênicas

Mateus Solano e Luis Miranda se trocam na frente do público em 'Irma Vap'

Comédia macabra reestreia nesta sexta com dupla de atores interpretando oito papéis

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 Luís Miranda e Mateus Solano e Luís Miranda encenam o 'O Mistério de Irma Vap', que estreia no Teatro Porto Seguro

Luis Miranda e Mateus Solano encenam o 'O Mistério de Irma Vap', que estreia no Teatro Porto Seguro Priscila Prade/Divulgação

São Paulo

Foi com um pot-pourri de referências que Charles Ludlam costurou sua comédia macabra “O Mistério de Irma Vap”, um de seus maiores sucessos.

Na peça, que surgiu numa despretensiosa montagem off-off-Broadway de seu Ridiculous Theatrical Company, em meados dos anos 1980, o americano transitava por Hitchcock, Emily Brontë, Shakespeare e por gêneros como farsa, melodrama e o chamado penny dreadful, um terror sensacionalista da Inglaterra vitoriana.

Habituado a recriar símbolos, o diretor Jorge Farjalla agora leva um outro tanto de referências à sua versão da história. “Eu fiz dela uma peça barroca”, diz o encenador, que acrescenta à montagem desde a palhaçaria até o trash oitentista, como alusões a filmes como “Pague para Entrar, Reze para Sair”, terror ambientado num parque de diversões.

Não à toa, a nova encenação transfere toda a história, originalmente ambientada numa mansão, para um trem-fantasma. Trata-se, afinal, de uma trama de terror, na qual a atriz Lady Enid, recém-casada com o egiptólogo Lord Edgar, vai morar numa casa assombrada por Irma Vap, primeira mulher do marido, morta tempos antes por um lobisomem. Não bastasse, tem de superar as complicações criadas pela governanta, que vê em Lady Enid uma rival.

O espetáculo já teve duas montagens no Brasil, ambas dirigidas por Marília Pêra –a primeira com Marco Nanini e Ney Latorraca, que ficou 11 anos consecutivos em cartaz, e a segunda com Marcelo Médici e Cássio Scapin–, e acabou muito conhecido pela excêntrica troca de figurinos. São apenas dois atores, que mudam as vestes a todo tempo para interpretar oito personagens distintos, humanos ou assombrações (Irma Vap, por sinal, é um anagrama da palavra “vampira”).

“A maioria das pessoas com quem eu conversava se lembrava mais das trocas do que da história da peça”, diz Farjalla, que reforça aqui o tom macabro e sarcástico da trama e dá outro linguajar para as mudanças de personagem. Tudo é feito sobre o palco, à vista do público.

Logo no início, os atores Luis Miranda e Mateus Solano surgem como eles próprios, vestindo roupas neutras. Cumprimentam-se, desejam um ao outro “merda!” (expressão de sorte, no teatro) e só então abrem as cortinas para revelar o cenário. No meio de uma ou outra cena, saem dos seus personagens e voltam a falar entre si como eles próprios, como se discutissem sua atuação.

E não saem do palco para trocar de figurino. Um homem, por exemplo, transforma-se em lobo apenas colocando do avesso o casaco de forro peludo. “Temos essa brincadeira o tempo de revelar o bastidor, o mecanismo do teatro, as convenções são criadas e destruídas na frente da plateia”, diz Solano.

A mecânica também fica à vista. Tudo é rudimentar, e o cenário é conduzido pelo elenco, aqui acrescido de outros quatro atores, Fagundes Emanuel, Greco Trevisan, Kauan Scaldelai e Thomas Marcondes. Eles interpretam espécies de monstrinhos do parque de diversão, manipulam o cenário, inclusive empurrando por uma rampa o carrinho do trem-fantasma –que, sim, parece um brinquedo de verdade. Ainda ajudam Solano e Miranda na troca de figurinos e fazem as vezes de músicos para tocar a trilha sonora.

“‘Irma Vap’, para mim, é uma ode ao ator e uma homenagem ao teatro. É um besteirol, mas cheio de significados”, afirma Farjalla, que enxugou o texto original e pincelou nele algumas referências políticas. Surgem sutis, aqui e ali, menções à reforma da Previdência ou aos ataques às artes e às leis de incentivo, como a Rouanet.

“A peça é feita dessa maneira para também falar do como nós estamos vivendo neste momento, a cultura está mais empobrecida, temos vivido uma ameaça”, diz Miranda. “É, a gente foi sendo levado para um lugar muito triste”, continua Farjalla. Há, afinal, que se fazer rir.

O Mistério de Irma Vap

  • Quando Sex., às 21h, sáb., às 18h e 21h, dom., às 16h e 19h. De 12/4 a 16/6
  • Onde Teatro Porto Seguro, al. Barão de Piracicaba, 740
  • Preço R$ 80 a R$ 150
  • Classificação 12 anos
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