O Terno cola grau com disco que encerra ciclo

Trio de rock se desvencilha de velhas influências no quarto álbum da carreira

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São Paulo

Na época do primeiro disco, “66” (2012), O Terno não era muito mais do que uma banda retrô. “Quando eu tinha 17 anos e estava escrevendo ‘66’, aquilo era um statement”, diz Tim Bernardes, vocalista, guitarrista, principal compositor e atualmente produtor da banda. “Queria que fosse claro o vintage, a voz lo-fi e tudo mais.”

Os integrantes do grupo O Terno vestidos de vermelho
Guilherme d'Almeida (baixo), Biel Basile (bateria) e Tim Bernardes (voz e guitarra), integrantes da banda O Terno - Biel Basile/Divulgação

Sete anos depois, o trio paulistano chega ao quarto — e mais interessante — disco da carreira, “<atrás/além>”, em que sobressai de vez às influências primordiais. “É um disco de rompimentos, tanto de Beatles e tropicalismo quanto de relacionamentos”, diz o vocalista. “É tipo assim: agora que eu aprendi, eu aprendi.”

De fato, “<atrás/além>” é o álbum em que O Terno está mais à vontade. O baterista Biel Basile e o baixista Guilherme d’Almeida mantêm uma conversa mais entrosada do que nunca com Bernardes. O líder da banda, por sua vez, aparece não apenas nas performances. Depois da experiência com “Recomeçar” (2017), elogiado disco solo que ele criou e gravou praticamente sozinho, Bernardes assumiu o posto de produtor e arranjador do grupo.

“Minha brisa é pensar que o que estou compondo já é o produto final: o jeito de gravar, quais são os reverbs, como é a capa, a foto”, ele conta. “Ouvia uma música e já sentia que precisava ter cordas ou sopros, era algo que a composição já sugeria.”

Com “Recomeçar”, Bernardes também perdeu o pudor para compor. O trabalho solo, triste e sentimental, retratava um fim indesejado de relacionamento. Agora, ele desenvolve de um jeito pessoal os temas relacionados à sua geração, millennial, das crises de esgotamento à indecisão crônica.

“Quero descansar, mas também quero sair”, ele canta em “Pegando Leve”, faixa em que se define como um “jovem anos 2010”.

“No começo [da carreira], você quer dar um jeito de compor, mesmo que esteja amarrado”, teoriza Bernardes. “Depois, você solta uma mão, solta um braço. Desta vez, eu me senti com as duas mãos soltas. Consegui olhar a coisa mais como um arquiteto mesmo.”

Os integrantes do grupo O Terno vestidos de vermelho
Tim Bernardes (voz e guitarra), Biel Basile (bateria) e Guilherme d'Almeida (baixo), integrantes da banda O Terno - Biel Basile/Divulgação

Na música “Volta e Meia”, O Terno conta com as participações de estrangeiros : Devendra Banhart, americano de ascendência venezuelana e o japonês Shintaro Sakamoto. Para Bernardes, ambos os cantores, assim como sua própria banda, sabem soar vintage e ainda assim conversar com o público contemporâneo.

São artistas de uma geração que cresceu com acesso praticamente irrestrito à internet – e, portanto à música de todas as eras. “Ainda mais nós, que crescemos nos anos 1990, com o rádio muito saturado, indo buscar muita coisa dos anos 1970, 1980, e tudo isso em segundos. Em algum momento eu penso: o que é a nossa década, o que é nosso? Por que algumas referências fazem sentido e outras não?”, reflete Bernardes.

A busca de uma estética e de um discurso que conversassem com os anos 2010 acabou influenciando “<atrás/além>” também na arte da capa e no título do álbum e das músicas, com referências à linguagem de HTML.

Para o vocalista, “<atrás/além>” funciona como um fim de ciclo. Nas palavras dele, “o fim de uma temporada de ciclos”. Uma espécie de emancipação ou o capítulo final da temporada de uma série.
“De alguma forma, fomos despindo O Terno, nos assumindo como indivíduos”, diz. “Saímos da escola como a ‘banda da escola’, de moleques. Esse disco celebra o fim disso. É o fim d’O Terno como a banda que começou dez anos atrás. Não tem que ter mais statement, é a nossa colação de grau.”

<atrás/além>

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