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Cinema

Violento, 'Compra-me um Revólver' enxerga beleza num México distópico

Produção de ficção científica é uma das surpresas da temporada

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Compra-me um Revólver (Cómprame un Revolver)

  • Classificação 16 anos
  • Elenco Ángel Rafael Yanez, Matilde Hernández Guinea, Wallace Pereyda
  • Produção México, 2018
  • Direção Juan Hernández Cordón

“Compra-me um Revólver” tem só cerca de 80 minutos de duração, mas a narrativa é tão intensa que passa a sensação de uma grande aventura épica num mundo desolado. Espécie de ficção científica, mas livre de qualquer clichê do gênero, a produção mexicana é uma das surpresas da temporada.

No roteiro, o também diretor Juan Hernández Cordón propõe uma situação absurda num futuro indefinido, mas não muito distante. O México se encontra em poder dos narcotraficantes, e as mulheres são caçadas por gangues que detêm o poder político, de forma fragmentada.

Uma vez capturadas, elas são retiradas do convívio de suas famílias. Não há uma justificativa explícita para essa perseguição nem uma explicação mínima que seja, sobre a ruptura social que assola o país.

Assim, “Compra-me um Revólver” faz parte de uma crescente tendência sci-fi de contar histórias sem a preocupação de contextualizar tudo para o espectador. Quando um roteiro desses é bem escrito, o mistério aumenta mais os aspectos angustiantes das situações, o que é definitivamente o caso no filme de Cordón.

Huck é uma menina de uns dez anos que vive com o pai num pequeno estádio de beisebol caindo aos pedaços, perdido no meio do deserto. O homem é o zelador do lugar, que um grupo de traficantes usa de vez em quando, para jogar e beber, ou até para festas da pesada.

Huck tem o cabelo curto e na maior parte do tempo usa uma máscara e um boné. Ela precisa fingir que é um menino para não ser levada pelas gangues que aparecem por lá. A garota tem três amigos, meninos no início da adolescência, que desejam crescer e formar a sua própria quadrilha. Um deles não tem um dos braços, cortado por um traficante que se sentiu desafiado pelo garoto.

O pai de Huck é viciado em heroína e aguenta todas as humilhações impostas pelos traficantes. Ele é submisso e depende da benevolência do líder local do tráfico, o único que sabe a verdade sobre Huck.

Uma série de confusões numa festa do bando, com emboscada de um grupo rival, vai deixar Huck sem o pai, perdida no deserto. 

Suas únicas esperanças são os amigos, que partem para procurá-la, e o estranho relacionamento que estabelece com o líder do tráfico, parceiro em sua fuga.

“Compra-me um Revólver” é muito violento. Assassinatos de extrema crueldade são exibidos da maneira mais despojada possível, com a clara intenção do roteiro em destacar a banalização da morte num ambiente de convivência que há muito deixou para traz qualquer traço de civilidade.

Além do ritmo incessante da ação e de uma fotografia que extrai beleza de um mundo árido, o filme tem um trunfo sem o qual dificilmente vingaria: a interpretação natural e envolvente da atriz mirim Matilde Hernández Guinea. Difícil sair da sessão de cinema sem ficar encantado com a menina.

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