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Caco Galhardo, criador de Lili, a Ex, revê a sua obra no livro 'Cinco Mil Anos'

Obra lançada pelo cartunista da Folha repassa duas décadas de tirinhas

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São Paulo

O nome do livro, "Cinco Mil Anos", excede em muito a realidade. Na verdade, nele estão reunidos "apenas" 22 anos de trabalho do cartunista Caco Galhardo , 51, desde que começou a publicar tiras diárias na Folha, em 1997.

Com lançamento nesta sexta (7), é um mostruário de personagens que exploram o que os humanos têm de ansiedade, mesquinhez e insegurança. E, por isso mesmo, o que têm de mais engraçado.

São 352 páginas, um tijolão. Grande para acomodar centenas de tiras e algumas publicações em outro formato. "Tenho o trabalho diário, uns cartuns, roteiros, mas uma coletânea de quadrinhos estava atrasada, há muito tempo", diz Galhardo, que considera a entrada no jornal como a grande mudança em sua vida.

Na época, fez uns poucos cartuns dos personagens Pescoçudos e enviou para algumas redações. Depois, foi convidado a ficar no jornal. "Então me pediram dez tiras para a sexta seguinte. E eu nunca tinha desenhado uma tira na vida! Respondi 'claro, vambora'. Fiz com os Pescoçudos, personagens com uma visão distorcida de tudo."

 

Para ele, era como estar no topo do mundo dividir espaço com Angeli, Glauco e Laerte, que tem como mestres.

"Devo ter feito naquele começo algumas das piores tiras da história da Folha", brinca (ou não). Sentiu que melhorava aos poucos, parou com os Pescoçudos e passou a criar outros personagens.

A obra de Galhardo é realmente construída em cima de tipos engraçados. A coletânea despreza ordem cronológica, optando por agrupar em cada capítulo um personagem.

Permite ao leitor abrir em qualquer página e começar a ler e se divertir, sem saber de que época é aquela produção. O que é facilitado ainda mais pelo fato de Galhardo, ao contrário de cartunistas e autores de HQ de temática ligada ao noticiário, ser um artista que se alimenta de questões atemporais. Seus tipos surfam nos relacionamentos e nas visões de mundo fora da caixinha.

A coletânea permite enxergar a vastidão de personagens. "O jornal vai embora, embrulha peixe, você não vê seu trabalho por muito tempo, ele vem e vai. Aí você pega a coletânea e percebe o quanto já produziu e se espanta. O bom de uma tira diária é que ela obriga você a construir uma obra."

O Pequeno Pônei já foi uma grande surpresa. Um tipo que se irrita porque todos o acham um fofo, e ele quer ser um bad boy revoltado, um beatnik. Surgiu depois um dos mais longevos, Chico Bacon, personagem sem superego capaz das reações mais absurdas.

"Aí veio a Lili, a Ex, que teve a adaptação em série de TV que eu adorei, com a Maria Casadevall. Você vê que a carreira finalmente está dando certo quando vai parar na TV", brinca Galhardo.

Segundo ele, Lili, uma mulher obcecada pelo ex-marido, apareceu de tanto ouvir amigas que tinham se separado e estavam loucas, malucas.

"A gente inventa o personagem que quiser, depois resolve matar e mata mesmo. Você cansa de um, pega outro." A lista é enorme. Julio & Gina, casal de idosos ranzinzas em briga eterna. Alcindo, o corno conformado. Vovô, o velhinho porra-louca. Vincent, o zumbi. El Diablo, o próprio dono do inferno. E muitos outros.

De vez em quando, ele abre espaço para uma série especial, como a adorada "Conjugal Fighters", em que casais usam uniformes e poderes de super-heróis de quadrinhos para discutir em combates as habituais tretas do casamento. Em "Daiquiri", tiras e cartuns são ambientados nos clubes de jazz.

Galhardo não tem relatos de grandes bloqueios. "Às vezes acordo de ressaca e acho que vai ser impossível sair alguma coisa boa. Tem umas tiras que eu tenho até vergonha na hora de mandar para o jornal, mas algumas dessas acabam repercutindo superbem."


Cinco Mil Anos
Autor: Caco Galhardo. Ed. Companhia das Letras. R$ 129,90 (352 págs.). Lançamento nesta sexta (7), às 19h, no B_arco, r. Dr. Virgilio de Carvalho Pinto, 426, Pinheiros

Notas de um Sonho
Trabalhos de Galhardo inspirados em Shakespeare. No Centro Britânico Brasileiro, r. Ferreira de Araújo, 741, Pinheiros. Até 16/6


Bruno Poletti/Folhapress

Caco Galhardo
Nasceu em 1967, em São Paulo. Nos anos 1980 e 1990, escreveu para campanhas publicitárias e publicou desenhos em fanzines. Hoje é quadrinista e roteirista de cinema e TV. Publicou livros, incluindo dois para o público infantil, e escreveu os episódios das duas temporadas da série do GNT "Lili, a Ex", baseada em personagem que criou na Folha em 1997

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