Descrição de chapéu
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Scorsese se inscreve na lista dos filmes históricos do rock com turnê de Dylan

Documentário 'Rolling Thunder Revue' trata de tour circense de 1975 que abarcava vários estilos

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Rolling Thunder Revue: A Bob Dylan Story

O documentário “Rolling Thunder Revue”, sobre uma turnê de Bob Dylan, começa com um panorama político dos Estados Unidos em meados dos anos 1970: o país saía humilhado da Guerra do Vietnã, Nixon havia sofrido impeachment e os americanos comemoravam o bicentenário de sua fundação no século 18.

Para que isso? Um monte de balela para dizer que a turnê de Dylan no segundo semestre de 1975 refletia a sociedade desesperançada americana na época? O diretor Martin Scorsese, de filmes como “Taxi Driver” (1976) e “Os Bons Companheiros” (1990), e que ganhou o Oscar com “os Infiltrados”, não precisava disso.

Dylan define melhor: “Estou tentando explicar o que foi a Rolling Thunder Revue, mas não sei. Porque foi sobre nada. Foi só uma turnê que aconteceu há 40 anos. Não me lembro de nada. Aconteceu há tanto tempo que eu nem tinha nascido”.

Essa turnê, mesmo que descrita de forma autodepreciativa pelo músico, fez história. Em primeiro lugar, foi uma excursão caótica, com dezenas de pessoas (entre 30 e 50) viajando de ônibus (não raro com Dylan dirigindo um deles) pelo leste dos EUA e pelo Canadá. É um espanto ver que foram apenas 25 shows entre 30 de outubro e 8 de dezembro (com mais 22 apresentações no sul e centro do país em abril e maio de 1976).

Nos shows, Dylan estava mostrando as músicas de “Desire”, que seria lançado em janeiro de 1976, além das canções de “Blood on the Tracks” (janeiro de 1975). São seus melhores discos àquela década e estão entre seus trabalhos imperdíveis. O auge no final do filme é a história da música “Hurricane”.

É claro que ele toca clássicos anteriores, e Scorsese mostra 12 canções integralmente, começando por “Mr. Tambourine Man”. E, quando vemos Dylan no palco cantando esse sucesso de 1965, rola uma estranheza pela sua maquiagem branca, seu chapéu, seus olhares e suas caretas.

É que a Rolling Thunder Revue era uma turnê circense, com atrações diferentes no mesmo palco e uma variedade de estilos (alguns péssimos, você vai ver).

Conforme a turnê avançava, incorporava artistas que estavam por ali, como a cantora e compositora Joni Mitchell, e dispensava outros, como o poeta Allen Ginsberg. Algumas das cenas vêm de um filme de ficção dirigido por Dylan naquela viagem, “Renaldo e Clara”. Inspirado por isso, Scorsese teria inserido algumas mentiras em seu documentário.

A participação de Sharon Stone, por exemplo, foi apontada pela imprensa americana como uma delas. Ela conta que era uma modelo pós-adolescente quando sua mãe resolveu ir a um dos shows. Teria conhecido Dylan e se juntado à turnê. Uma foto dos dois juntos é mostrada, mas seria uma montagem.

Três outros personagens seriam ficcionais: o cineasta Stefan van Dorp, que dá uma escorraçada em Scorsese (“Eu sou o cineasta aqui. Você só está usando meu material”), o político Jack Tanner e o empresário Jim Gianopulos, que, apesar de existir, não teria atuado na turnê.

Ninguém ainda veio a público confirmar se são realmente pegadinhas.

Por todas as histórias contadas, e pela importância dos discos retratados, o longa de Scorsese se inscreve na lista dos documentários históricos do rock. Só não ganha avaliação máxima porque, se 30 minutos fossem cortados, o filme seria bem melhor.

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