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Cinema

'Cézanne e Eu' é pouco imaginativo e próximo da estética televisiva

Longa trata da tempestuosa amizade entre o escritor Émile Zola e o pintor pós-impressionista Paul Cézanne

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Cézanne e Eu (Cézanne et moi)

  • Preço Estreia nesta quinta (4)
  • Elenco Guillaume Canet, Guillaume Gallienne, Alice Pol
  • Produção Bélgica/França, 2016
  • Direção Danièle Thompson

Com atraso de quase três anos em relação à sua estreia na França, chega agora aos cinemas "Cézanne e Eu", escrito e dirigido por Danièle Thompson, cineasta nascida em Mônaco.

O longa trata da longa e tempestuosa amizade entre o escritor Émile Zola (Guillaume Canet) e o pintor pós-impressionista Paul Cézanne (Guillaume Gallienne). São dois dos mais importantes nomes da arte moderna, figuras essenciais da intelectualidade francesa no fim do século 19.

Nascido na França, de pai italiano e infância cheia de privações financeiras, Zola (autor de "Nana", "Germinal", entre outros marcos do naturalismo) soube valorizar o status social e o jogo intelectual francês, atributos que lhe permitem acumular dinheiro e prestígio.

Cézanne, filho de banqueiro, não compactua com as frivolidades da sociedade intelectual da época e sua visão de mundo intransigente o aparta do sucesso e das regalias burguesas, principalmente quando se afasta da família.

O conflito entre os dois quase sempre aparece porque Cézanne, entre outras queixas, se sente mal representado nos livros do amigo. Os encontros, cada vez mais esparsos, costumam terminar em inflamadas discussões.

Na tese defendida pelo filme, há muito de incompreensão e intolerância na relação de ambos, e há também um esforço bem grande para que nenhum deles seja o mau da fita. Na ótica de Thompson, todos têm suas razões (como no famoso axioma de "As Regras do Jogo", de Jean Renoir).

Por vezes o filme dá a entender que Cézanne não se entendia com ninguém, a não ser em sua juventude, quando ainda alimentava alguns sonhos. E que Zola escrevia muito mais sobre outros pintores, como Édouard Manet, do que sobre as obras do grande amigo.

O historiador de arte francês Elie Faure (1873-1937) nos lembra que, apesar de Cézanne ter obtido reconhecimento artístico só na reta final de sua vida, a impressão de falta de sociabilidade do pintor, reforçada no filme, era exagerada. Ele chegou a trabalhar com muitos dos pintores impressionistas (Pissarro, Sisley, Monet e Renoir, por exemplo).

Mas seria tolice censurar o filme por esse exagero. O roteiro, afinal, é uma especulação de como teria sido a amizade entre os dois artistas ao longo de muitos anos. Poderia ser uma boa especulação. Não é o caso.

Danièle Thompson é diretora de poucos filmes, mas ao menos um é digno de nota: o agradável "Um Lugar na Plateia" (2006), com Cécile de France. Em "Cézanne e Eu", sucumbe ao peso dos personagens e estabelece uma direção pouco ou nada imaginativa, próxima de uma estética televisiva medíocre.

Nesse contexto, o trabalho dos excelentes atores Guillaume Canet e, principalmente, Guillaume Gallienne, ficam prejudicados. Como também a reconstituição de época, pois nem sempre acreditamos que as personagens na tela estão no século 19.

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