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Cinema

Filme põe holofotes na saúde psicológica das novas gerações

Entre ameaças climáticas e de privacidade, 'O Professor Substituto' equilibra diversão e reflexão inteligente

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O Professor Substituto

  • Elenco Laurent Lafitte, Emmanuelle Bercot, Pascal Greggory
  • Produção França, 2019
  • Direção Sébastien Marnier

O sol escaldante ilumina a sala de um rico colégio parisiense. Sob um dia lindo de verão —onde apenas sons de pássaros se fazem ouvir—, os estudantes estão concentrados em suas tarefas. Quando nada parecia capaz de perturbar a harmonia, um grave incidente mudará os rumos da instituição e seus alunos.

A beleza da cena introdutória não merece spoilers.  Bastam três minutos para que “O Professor Substituto”, novo filme de Sébastien Marnier, capture a atenção e cative o espectador na história de Pierre (Laurent Lafitte), professor de francês, que, em decorrência do trágico evento, é contratado para assumir a turma mais brilhante da escola. 

A inteligência dos jovens acompanha doses de arrogância. O modo como se comportam —ultrapassando os limites da boa educação e dos protocolos morais— não demora a fazer da curiosidade de Pierre uma obsessão sem limites. Fora dos muros do colégio, os estudantes parecem tramar algo de consequências devastadoras. Ao menos, é nisto que o professor parece acreditar.

Baseado no livro homônimo de Christophe Dufossé, “O Professor Substituto” não poderia estar mais atento a temas caros à contemporaneidade —das ameaças climáticas aos desafios da privacidade em tempos de virtualização. Em atmosfera de suspense e mistério, pões seu enredo a serviço de reflexões há décadas inesgotáveis.

Berço do Iluminismo e das promessas libertárias da razão, a França e seu cinema ainda questionam: como a confiança cega na ciência se reverteu em barbárie? Como, por trás da aparência de progresso (ou sob o brilhantismo de alunos perfeitos), impulsos de brutalidade primitiva não cansam de vir à superfície?

O vínculo entre racionalidade e violência, discussão fundamental do século 20, contamina desde os intricados debates da filosofia alemã de Theodor Adorno a obras-primas do cinema, como “Laranja Mecânica” (Stanley Kubrick, 1971). “O Professor Substituto”, embora muito longe da envergadura e magnitude dos clássicos, já faz muito ao se destacar no contingente de filmes franceses que entraram em cartaz no Brasil em 2019.

Lançado no último Festival de Veneza, o longa de Marnier encontra o difícil equilíbrio entre diversão e reflexão inteligente. Sem abrir mão do entretenimento, daqueles que nos prendem do começo ao fim, volta seus holofotes à saúde psicológica das novas gerações e seus desafios de se posicionar em um mundo estruturado na euforia das redes sociais.

Contando com o talento de Laurent Lafitte, que, ano a ano, se torna peça importante no cenário francês e mundial, a obra tira a sua força também de um ótimo elenco colegial. Personagens tão difíceis quanto distintos entre si, a turma de atores e atrizes jovens compõe um retrato abrangente e eficaz dos nossos tempos.

Após um elogiado filme de estreia, “Irrepreensível” (2016) —pouco difundido no Brasil—, Sébastien Marnier demonstra mais uma vez, e de vez, o seu valor como diretor e roteirista. 

Com menos de 40 anos, persegue seu espaço no cenário internacional sem se acomodar no conforto de tramas simples. E preocupado em mapear o que há de mais urgente na teia de assuntos de sua época, desponta como um dos nomes instigantes do atual cinema francês. 

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