Descrição de chapéu Cinema

'Não posso admitir que façam filmes como o da Bruna Surfistinha', diz Bolsonaro

Presidente afirma que ideia é transferir a Ancine para Brasília e ministro nega extinção da agência reguladora

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Brasília e São Paulo

​O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (18) que pretende transferir a Ancine (Agência Nacional do Cinema) do Rio de Janeiro para Brasília e criticou o patrocínio federal a produções audiovisuais que, segundo ele, fazem "ativismo".

Em cerimônia em comemoração aos 200 dias do atual governo, ele disse que não pode admitir que dinheiro público seja destinado a filmes como o da Bruna Surfistinha, em referência à produção do diretor Marcus Baldini e que teve a atriz Deborah Secco como protagonista. 

 

"Agora pouco, o [ministro da Cidadania] Osmar Terra e eu fomos para um canto e nos acertamos. Não posso admitir que, com dinheiro público, se façam filmes como o da Bruna Surfistinha. Não dá. Ele apresentou propostas sobre a Ancine, para trazer para Brasilia. Não somos contra essa ou aquela opção, mas o ativismo não podemos permitir em respeito às famílias. É uma coisa que mudou com a chegada do governo", disse.

Nesta quinta-feira (18), o presidente assinou decreto que transferiu o Conselho Superior do Cinema, responsável pela formulação da política nacional de audiovisual, do Ministério da Cidadania para a Casa Civil. Bolsonaro está insatisfeito com a política de fomento ao cinema e fará alterações na atual estrutura.

Bolsonaro cogitou, inclusive, diluir as funções da agência reguladora em um departamento da própria pasta, o que seria feito por meio de uma medida provisória. A possibilidade, no entanto, foi negada por Osmar Terra, segundo o qual continuará no atual formato, mas agora sediada na capital federal.

O presidente Jair Bolsonaro criticou patrocínio federal a produções audiovisuais que, segundo ele, fazem 'ativismo' - Pedro Ladeira/Folhapress

"A Ancine, na verdade, era para ser em Brasília. Ela estava, numa forma extemporânea, inadequada, no Rio de Janeiro. Até por conforto do pessoal que morava no Rio de Janeiro. Então, nós estamos trazendo de volta, ela tem que ficar aqui", disse. "Ela não vai ter a função distribuída no ministério. A política é nossa", acrescentou.

Segundo relatos feitos à Folha por assessores presidenciais, a mudança da Ancine para Brasília e a transferência do órgão colegiado para a Casa Civil fazem parte de uma tentativa do presidente de ter mais influência sobre as decisões das estruturas federais. A informação foi antecipada pela colunista Mônica Bergamo.

Em abril, também contrariado com o conteúdo de uma produção audiovisual, o presidente interveio no Banco do Brasil e pediu que uma propaganda televisiva direcionada ao público jovem fosse vetada. A peça publicitária trazia diversidade sexual e racial.

"Não tem problema o conselho ir para outra pasta. Tem um monte de conselhos na Casa Civil. Na Casa Civil, em geral, as decisões mais importantes estão lá com eles. Mas a política do audiovisual é toda nossa", disse Terra.

Já o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) afirmou que o Conselho Superior de Cinema volta para a casa onde ele nasceu. Segundo ele, a decisão foi tomada porque o cinema precisa ter apoio, mas também deve ter cobrança de resultado. 

“Qual foi o último grande hit musical nascido numa produção cinematográfica?”, questionou o ministro Onyx, afirmando que o público e o sucesso da produção vão fazer parte da métrica a ser usada na hora de autorizar captações. “Se vai ter 10 pessoas ou 100 mil [de público], para quem captou, é irrelevante, porque ele já ganhou o dinheiro dele.”

No final do ano passado, o ex-presidente Michel Temer já havia feito alterações no colegiado de cinema, diminuindo o espaço de cineastas brasileiros e aumentando o de representantes das telecomunicações.

O conselho foi criado em 2001 e é composto por nove titulares e nove suplentes. É competência dele também aprovar diretrizes gerais para o desenvolvimento da indústria audiovisual e estimular a presença do conteúdo brasileiro nos segmentos de mercado.

Os representantes da indústria audiovisual e da sociedade civil, assim como seus suplentes, são nomeados pelo presidente para mandatos de dois anos, sendo permitida uma recondução. 

Membro do Conselho, Bruno Barreto, diretor de “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976), conversou com a Folha antes da publicação do decreto, quando avaliou a aproximação da pasta com o Planalto como positiva. “É um upgrade”, diz. “Não sei de detalhes, mas ele deve estar interessado no cinema.”

O deputado Alexandre Frota, do PSL, também vê com bons olhos a mudança. “Se tiver uma pessoa técnica lá, que entenda de cinema, que seja da classe e aprovada por ela, não haveria problema.”

Outros representantes do setor problematizam as mudanças estabelecidas pelo decreto. É o caso da ex-dirigente da Ancine, Vera Zaverucha. “Diminuir a representação é ruim, porque o que se espera de órgãos consultivos é que sejam paritários”, diz.

À frente da Spcine, Laís Bodanzky critica a falta de clareza em relação à causa da mudança. “A pergunta é: qual é o motivo? Não pode jamais ser a inibição das possibilidades de conteúdo. Até porque, se o audiovisual não é livre, ele também não inova.”

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