Jovens bailarinos coreanos experimentam um K-pop frenético sob o olhar de vovós. Camponesas, cabeleireiras, comerciantes, as veneráveis velhinhas acompanham a dança, com movimentos mais contidos, mas com igual entusiasmo.
“Dancing Grandmothers” (avós dançando), da coreógrafa sul-coreana Eun-Me Ahn, inicia a programação da Bienal Sesc de Dança e dá o tom do evento, que será realizado de 12 a 22 de setembro em Campinas (SP).
Diversidade de corpos, influências pop e milenares, sobreposição de linguagens. Um panorama da dança contemporânea é representado por artistas de oito estados brasileiros e 12 países nas obras escolhidas pela curadoria do festival, formada por Cristian Duarte, Fabricio Floro, Silvana Santos, Rita Aquino e Luciane Ramos.
Na obra de abertura, a plateia poderá conhecer uma das mais importantes coreógrafas sul-coreanas e entrar na dança de sua companhia. É o que o público internacional tem feito, levantando-se das cadeiras para acompanhar o final do espetáculo, quando bailarinos e vovós se juntam numa balada ao som de uma espécie de techno-batucada.
A mistura de referências é uma constante na programação, mas nem tudo tem clima de celebração. Há bastante destaque para os corpos marginalizados, periféricos, diferentes. O tal do corpo político.
“A curadoria está atenta ao que está rolando, aos temas importantes, para colocá-los em discussão”, diz Danilo Miranda, diretor do Sesc-SP.
Há “A Dança que Ninguém Quer Ver”, do grupo Giradança (RN), o “Canto dos Malditos”, do paulista Marcos Abranches, a criação da espanhola La Ribot para o grupo português "Dançando com a Diferença" ou todos os corpos elétricos coreografando muletas e cadeiras de rodas na obra da austríaca Doris Uhrich.
Há também o “Peso Bruto”, do corpo gordo da bailarina Jussara Belchior ou a negritude urbana de Leandro Souza, tremendo e girando inspirado pelo trânsito das grandes cidades.
Outros espetáculos exploram as possibilidades da arte queer e dos corpos não-binários. Os “Stripteases Contemporâneos” de Jorge Alencar resumem as trajetórias estético-eróticas de performers da Bahia, misturando linguagens de cabaré e do burlesco.
Já a coreógrafa Thelma Bonativa revisita o tropicalismo de “Eu Sou Uma Fruta Gogoia” no corpo não-binário de Pedro Galiza.
Essa espécie de antropofagia dançada vai surgir explícita na trilogia da uruguaia Tamara Cubas, que “digeriu” obras dos brasileiros Marta Soares, Marcelo Evelyn e Lia Rodrigues para criar seus espetáculos.
O piauense Evelyn, que na última bienal de dança, em 2017, dividiu opiniões com sua dança bruta e desafiadora, volta neste ano com “A Invenção da Maldade”, um ritual coreográfico com bailarinos dançando nus em volta de fogueiras.
As apresentações serão realizadas em vários espaços de Campinas: unidade do Sesc, Teatro Castro Mendes, Unicamp, centros culturais, ruas, praças e o terminal rodoviário da cidade. São mais de 50 ações cênicas, incluindo espetáculos, performances e instalações, como a obra de vídeo do americano William Forsythe inédita no Brasil.
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