CRÍTICA
Longa 'Capital Humano' é um sinal de vitalidade da produção italiana
Ao primeiro olhar, "Capital Humano" retoma a ideia central de muitos filmes recentes de Woody Allen (e dos de Fritz Lang): a de que um simples acaso pode determinar o destino de um ser humano.
Neste filme de Paolo Virzì o acaso surge na primeira sequência: dois carros se cruzam numa rodovia, um deles se lança sobre uma bicicleta para evitar o acidente e provoca a queda do ciclista, depois disso o carro desaparece.
Mas o acidente não será o centro do filme. Aqui teremos várias histórias que se superpõem. Elas envolvem um ambicioso corretor de imóveis, Dino, que se aproveita do namoro da filha com um magnata para se lançar no mundo dos altos negócios: empenha a própria casa para investir num fundo especulativo dos Bernaschi.
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Matilde Gioli e Giovanni Anzaldo no filme de Paolo Virzì |
A investida de Dino escapa ao acaso. Quase tudo o mais que se segue ou a precede, não: o acidente de carro em que um homem em sua bicicleta é atingido; o passeio em que a sra. Bernaschi topa com um velho teatro prestes a ser demolido; o encontro entre Serena (a filha de Dino) e o desenhista Luca (que marca de vez o fim do namoro com Massi, o filho dos Bernaschi) etc.
Talvez haja certa liberalidade no trato das coincidências, é verdade. No entanto, ela é matizada pela narrativa dividida em capítulos, que dá ênfase a cada personagem. Essa narrativa será o aspecto central do filme, pois por ela se efetua a passagem ao que o filme tem de mais interessante.
A saber: o esfacelamento das relações na Itália contemporânea (só Itália?). Relações familiares, para começar: todas em estado de perfeita desconexão (quando não falência). Ninguém está na mesma página, como se diz (e para resumir). Relações profisionais: todos os personagens também parecem deslocados em relação aos parceiros. Relações financeiras, por fim: todos parecem aparentar algo que não são ou não têm para que o mundo siga em frente.
Este rico quadro operacional perde-se, em parte, no momento de fechar a trama. Por um lado, caminha-se para um melodrama meio fácil; por outro, há destinos importantes que não se fecham (o de Dino, especificamente).
Ainda assim, "Capital Humano" parece um sinal de vitalidade emitido pelo cinema italiano, a transmitir a sensação de que talvez a era Berlusconi –de liquidação dessa cinematografia– tenha ficado para trás.
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