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Obra sobre revista que manipulou informações resgata história da imprensa

A Ilustração reembalava para um público luso-brasileiro o rico material visual produzido na capital mundial da indústria gráfica

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Rafael Cardoso

A Ilustração (1884-1892)

  • Preço R$ 68 (274 págs.)
  • Autor Tania Regina de Luca
  • Editora Unesp

Para quem gosta de tinta e papel, as tretas do mundo digital podem parecer sintomas de declínio irreversível nos padrões de qualidade da imprensa. Não é o que demonstra “A Ilustração (1884-1892)”, de Tania Regina de Luca, estudo primoroso dessa revista que circulou entre Lisboa e Rio de Janeiro no final do século 19.

Editada e impressa em Paris, ela tinha por principal atrativo veicular imagens produzidas para periódicos estrangeiros —em especial, sua congênere Le Monde Illustré, com a qual mantinha acordo operacional.

Por motivos de custo e mão de obra, as redações portuguesas e brasileiras da época não tinham condições para competir com a qualidade das folhas ilustradas parisienses.

Revista 'A Ilustração'
Revista 'A Ilustração' - Reprodução

A Ilustração reembalava para um público luso-brasileiro o rico material visual produzido na capital mundial da indústria gráfica. A revista nem sempre cumpria essa tarefa com idoneidade intelectual. Ao contrário, suas práticas editoriais foram marcadas pela manipulação estratégica da informação.

Quem movia A Ilustração era um cronista português de nome Mariano Pina. Nas palavras de Eça de Queirós, com quem conviveu, era um “videiro”, termo que encontra equivalente no esperto dos tempos de hoje. Entre outros colaboradores involuntários, explorou textos de Olavo Bilac e até uma carta de Émile Zola.

Sem um tostão próprio, Pina recorreu ao patrocínio do conterrâneo Elísio Mendes, que era proprietário da Gazeta de Notícias, então um dos maiores jornais diários do Rio de Janeiro. Com dinheiro brasileiro e “savoir-faire” francês, se estabeleceu em Paris com o propósito de causar impacto em Lisboa.

Embora A Ilustração fosse em nome uma “revista quinzenal para Portugal e Brasil”, pouco se preocupava com as questões do lado de cá do Atlântico. Quando Mendes se deu conta do abuso, rompeu com Pina, mas a sorte já estava lançada. Hábil para transformar toda ocasião em oportunidade, o redator galgou influência política em Portugal.

 

O maior mérito do livro reside no exame exemplar da trajetória empresarial de A Ilustração, faceta das menos conhecidas mesmo dos especialistas.

Graças à sobrevida do arquivo de Pina, conservado na Biblioteca Nacional de Portugal, a autora conseguiu recuperar em detalhe os trâmites comerciais e administrativos que regiam um empreendimento jornalístico no século 19.

Com sua perspectiva internacional, o livro de Tania Regina de Luca é contribuição de peso para os estudos de história da imprensa. Junta-se assim a uma leva de livros recentes que vêm revolucionando, discretamente, a história editorial brasileira.

Não deixa de ser irônico que essa revalorização do nosso passado impresso ocorra em meio a uma crise colossal do mercado editorial no Brasil. Enquanto livrarias fecham as portas e editoras vão à falência, a memória gráfica desponta como monumento a ser venerado.

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