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Se Crivella censura beijo gay, o tio Edir Macedo já fez falas pró-LGBT

'Jesus não levantou uma bandeira, falando: Olha, vocês têm que falar contra o homossexualismo', disse o bispo

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Rio de Janeiro

Se Marcelo Crivella tenta censurar um gibi com dois homens se beijando, tem um tio seu que chegou a ser premiado com o "Oscar gay" por declarações amigáveis à comunidade LGBTI. Esse tio é Edir Macedo.

Crivella, um bispo licenciado da igreja do bispo Macedo, a Universal do Reino de Deus, exibe credenciais conservadoras desde que assumiu a Prefeitura do Rio. Ele já se pronunciou várias vezes, sempre para maldizer, sobre temas vistos como progressistas demais para o gosto do evangélico médio, de aborto a bitoca gay.

Ao mandar confiscar na Bienal do Livro uma HQ com o amor de um casal masculino completamente vestido, Crivella revela uma homofobia comum no discurso de vários líderes evangélicos. Macedo destoa do grupo.

O bispo Edir Macedo realiza culto na praça Jardim do Méier, no Rio de Janeiro - Danilo Verpa/Folhapress

Há quatro anos, na Rede Aleluia, que agrupa rádios da Universal, disse o bispo no programa "Palavra Amiga":  “Deus não quer nada imposto. E nós na Igreja Universal não impomos nada a ninguém. [...] Há muitos crentes, pastores e igrejas levantando uma bandeira contra o movimento gay, contra o casamento de homossexuais. Eu pergunto: Jesus faria isso se estivesse vivendo no nosso tempo? Eu não creio que Ele faria. Porque no tempo d'Ele já havia homossexuais e Jesus não falou nada. Jesus não levantou uma bandeira, falando: ‘Olha, vocês têm que falar contra o homossexualismo, que é proibido, que não deve'".

Em 2016, em entrevista por email ao jornalista Ricardo Feltrin, do UOL: "Creio que o senhor Jesus deu um excelente exemplo de mensagem para todos os pecadores: Não incriminou ninguém, exceto os RELIGIOSOS HIPÓCRITAS". Nota: as maiúsculas partiram do próprio bispo.

No mesmo ano, o GGB (Grupo Gay da Bahia), um dos mais fortes representantes da comunidade LGBTI nacionalmente, concedeu a Macedo o Triângulo Rosa. É o prêmio do que a organização chama de Oscar gay, um lembrete do distintivo que nazistas usavam em campos de concentração para confinados homossexuais e que depois, reapropriado, virou símbolo de orgulho desse segmento.

O líder da Universal entrou numa lista de laureados que contou ainda com o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o ator Bruno Gagliasso e empresas como Boticário e Sonho de Valsa.

Não que sua Universal seja o totem do pensamento progressista. No campo dos costumes, ela está à direita em muitos sentidos. Um exemplo: muitas feministas pulariam da cadeira ao ler trechos de "Casamento Blindado", livro do casal Renato e Cristiane Cardoso, genro e filha do bispo Macedo. 

Há ali a explicação do que seria o verdadeiro significado da submissão num relacionamento. “Não é ser capacho do marido. Na Bíblia, a palavra está relacionada a humildade, brandura, cumplicidade, confiança na liderança, maleabilidade, docilidade e respeito. É o contrário de ser desafiadora, rebelde, inflexível e resistente. A mulher precisa de certas qualidades para trabalhar em parceria com o marido, a quem deve respeitar como líder.”

Entre evangélicos da comunidade LGBTI, existe certo ceticismo sobre a oratória "gay-friendly" de Macedo. Há quem veja uma postura oportunista, sugerindo que o bispo pode estar de olho num nicho de mercado —não são poucos os gays com alto poder aquisitivo, muitos sem filhos para sustentar, que poderiam ofertar gordos dízimos. 

E até onde iria a disposição da Universal em aceitar membros LGBTI? Não se sabe de um pastor ou bispo que possa ser abertamente homossexual lá dentro, ou líderes transsexuais, pondera a ala cética. 

Ainda assim, dá para dizer que Edir Macedo, um apoiador de Jair Bolsonaro na última eleição presidencial, já assumiu posições inequivocadamente progressistas se comparado com pares do meio evangélico. Também se notabilizou por apoiar a descriminalização do aborto.

Explicou por que em entrevista à Folha em 2007. Lamentou que mulheres perdessem a vida "em clínicas de fundo de quintal", questionou o que era "menos doloroso", se abortar ou ter "crianças vivendo como camundongos nos lixões de nossas cidades" e apontou uma resistência ao planejamento familiar:

"Acredito, sim, que o aborto diminuiria em muito a violência no Brasil, haja vista não haver uma política séria voltada para a criançada". 

O Oscar Gay do GGB dá o Troféu Triângulo Rosa para os amigos da causa e o Troféu Pau de Sebo para os inimigos. Se Macedo já ganhou o primeiro, resta poucas dúvidas sobre qual restaria a seu sobrinho político.

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