Descrição de chapéu Livros

Com reviravoltas, livro de Gustavo Piqueira combina estéticas e linguagens

'Bibi' começa com ilustrações fofinhas e, no decorrer da leitura, narrativa, tipo de papel e até título são alterados

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São Paulo

No dicionário, miragem é algo descrito como um efeito ótico que ocorre nas horas mais quentes ou, por derivação, uma falsa realidade, uma ilusão, um sonho.

Isso é o que dizem as palavras, mas a prática é outra história. E poucos autores se preocupam tanto em dar corpo à ideia quanto Gustavo Piqueira

“Na primeira vez você quase não entende nada, mas não porque o livro é rebuscado —na verdade, é bem simples. A confusão surge porque já chegamos com uma leitura predefinida. É quando entendemos a brincadeira que tudo fica mais claro”, diz Piqueira. 

Retrato do designer e escritor Gustavo Piqueira em 2017 - Eduardo Anizelli/Folhapress

Ele fala sobre o seu novo livro, “Bibi”, publicado neste mês pela editora Lote 42. Mas a frase é também uma miragem, pois, no fundo, ela se refere a praticamente todas as obras recentes de Piqueira.

“Bibi” conta a história do personagem-título e começa com ilustrações fofinhas. Mas, a certa altura, o narrador avisa: “O nome dele é Fabiano. Para ser sincero, ninguém o chama de Bibi, só os pais. E de infantil ele não tem nada, pois já passou dos 30”.

É quando o livro tem a primeira virada e ganha não só uma estética nova, criada com risografia (técnica que faz lembrar a serigrafia), mas também um jeito de narrar diferente e até linguagem mais adulta.

Nesse trajeto, o tipo de papel muda, as palavras se adaptam, o próprio Bibi/Fabiano se transforma de acordo com o material e o estilo da narrativa em que está inserido e até o título do livro é alterado.

“É a primeira vez que tenho a sensação de que fiz alguma coisa que nunca vi antes”, conta Piqueira sobre a experimentação de estilos e materiais que fazem com que, na prática, o narrador da história seja o próprio objeto livro.

Para saber se avaliação é real ou miragem, uma exposição na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na USP, em São Paulo, exibe 14 livros produzidos por Piqueira de 2012 a 2018. 

Destaque para “Lulux”, cuja narrativa se desenrola em objetos de jogo de jantar, e “Valfrido?”, romance performático em que vizinhos receberam cartas com partes da história.

Vistas lado a lado, as obras mostram uma liberdade completa na manipulação dos elementos que formam um livro e, a partir disso, o impacto que isso gera no que é contado. 

Algo que continua nos próximos lançamentos do autor: um título sobre o poeta e designer William Morris, uma “não ficção criativa” sobre São Paulo, seis livretos experimentais lançados na feira Miolo(s), marcada na capital paulista para os dias 2 e 3 de novembro, e a aventura de um personagem feita a quatro mãos com seu filho.

Frente a esse volume de produção, a proclamada crise no mercado editorial também seria uma miragem? “Foram os modelos econômicos que ruíram, não o segmento. Todo desmoronamento abre frestas para coisas novas.”​

Bibi

  • Preço R$ 60 (96 págs.)
  • Autor Gustavo Piqueira
  • Editora Lote 42

Impertintentes: 14 Livros de Gustavo Piqueira

  • Quando Seg. a sex., das 8h30 às 18h30. Até 1º/12
  • Onde Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, r. da Biblioteca, 21, Cidade Universitária, São Paulo
  • Preço Grátis
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