Descrição de chapéu BBB

Por que ex-BBBs estão com raiva da Globo e desiludidos sem glamour após reality

Participantes da última edição do programa relatam dívidas, desemprego e dificuldade para fechar trabalhos publicitários

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Os ex-BBBs Leidy Elin, Maycon, Nizan, Juninho, Thalyta e Michel - Silvis

São Paulo

Endividado e desempregado. Não era essa a vida que o cozinheiro Maycon Cosmer esperava levar após sair da edição mais recente do Big Brother Brasil. Quem também se desiludiu depois do programa foi a advogada Thalyta Alves, a segunda eliminada da edição deste ano. "A gente achou que teria uma vida maravilhosa e cor-de-rosa após o BBB. Ilusão nossa."

O executivo Nizam Jokh, por sua vez, esperava trabalhar na televisão depois do programa, o que não se concretizou. Hoje, parte de sua renda vem de fotos eróticas no site Privacy. Ele estima ter deixado de ganhar pelo menos R$ 100 mil em razão de amarras contratuais com a TV Globo. "A gente ficou muito travado. Eu esperava que as portas fossem se abrir, só não sabia que ia ser na base da bicuda."

Da esq. para a dir., Maycon Cosmer, Nizam e Thalyta Alves - Divulgação

Desde o ano passado, a emissora, por meio de sua agência Viu Hub, controla as ofertas de publicidade que chegam aos participantes do grupo pipoca, ou seja, as pessoas anônimas.

Especialistas consideram que a mudança aconteceu porque a Globo estava perdendo dinheiro ao deixar os jogadores nas mãos de outras agências, sobretudo aqueles que nos últimos anos caíram nas graças do mercado publicitário. Exemplos são Gil do Vigor e Juliette, do BBB exibido há três anos, que aumentaram os dígitos das suas contas bancárias com propagandas para marcas como Itaú, Havaianas e Vivo.

Outro objetivo da emissora, também segundo especialistas, é impedir que ex-participantes trabalhem com concorrentes de seus patrocinadores ou empresas consideradas duvidosas.

A Folha entrou em contato com a Globo por telefone, WhatsApp e email, por vários dias na última semana, mas a emissora não respondeu às perguntas até a publicação desta reportagem nem explicou os termos do acordo que firma com quem entra no BBB.

Maycon, Thalyta e Nizam engrossam um grupo de ex-BBBs decepcionados com a dificuldade de trabalhar com publicidade quando saíram da casa. Além deles, também reclamaram do problema o dançarino Lucas Luigi e o professor Lucas Buda, que já afirmou em entrevistas dever dinheiro à equipe que cuidou das suas redes sociais durante o reality.

Segundo Maycon, a agência Viu Hub vetava quase todas as suas propostas comerciais e não se comunicava de forma clara sobre o andamento das negociações, feitas por meio de conversas no WhatsApp. O cozinheiro afirma ainda que marcas como Nestlé e Rexona se interessaram em gravar propagandas com ele, mas nada vingou.

"Me dessem trabalhos de R$ 2.000 ou R$ 5.000, que seja. Eu só queria um trabalho que me suprisse necessidades básicas", diz ele, acrescentando que recebe da Globo um cachê cinco vezes menor que seu salário de cozinheiro.

Após as reclamações, a emissora liberou recentemente os ex-BBBs para aceitarem as propostas publicitárias que quisessem. Mas o contrato segue vigente até o fim deste mês —eles ainda são proibidos de darem entrevistas para outras emissoras de TV, por exemplo, segundo um ex-participante.

Mesmo que agora possam fechar publicidade a seu bel-prazer, muitos deles ainda não conseguiram grandes parcerias comerciais. A maioria só fez poucas permutas, ou seja, ganharam produtos ou desfrutaram de serviços em troca de divulgá-los na internet.

"Qualquer fatia de mercado que pudermos abocanhar, vamos brigar por ela", diz Julio Beltrão, diretor artístico da Mynd, maior agência de influenciadores do Brasil. "Não é diferente da Globo, que é bem agressiva comercialmente. A emissora tem metas a bater, então está pensando a longo prazo."

Agenciar os participantes faz parte também de uma estratégia da Globo para contornar uma crise vivida pelo BBB entre o ano passado e o anterior, quando o interesse do público caiu de forma vertiginosa, afirma Chico Barney, jornalista especializado na cobertura de reality shows.

montagem com participantes BBB24
Os ex-BBBs Beatriz Reis, Davi, Isabelle Nogueira, Matteus Amaral, Alane e Fernanda Bande - Silvis

Para ele, o motim dos ex-participantes contra a emissora joga a favor do programa. "Esse incômodo é positivo. Quanto mais o participante chega focado em ganhar o programa, melhor para o público. O Davi, campeão deste ano, já fez isso, diferente de uma galera que entrava lá só para fazer presença VIP. Os próximos participantes vão estar desesperados, sabendo que precisam deixar uma marca."

A expectativa, portanto, é que a próxima edição do programa lembre as primeiras, quando não se falava em influenciadores digitais e os jogadores faziam o que fosse preciso para se destacar e alcançar o prêmio.

À época, os ex-BBBs ganhavam dinheiro fazendo presença VIP em eventos ou festas. Fora isso, eram procurados por revistas para posarem nus em troca de milhares de reais.

Além de considerarem o contrato da Globo restritivo, os ex-BBBs têm dificuldade para trabalhar como influenciadores digitais devido aos poucos seguidores que ganharam em comparação com outros participantes. Nas redes sociais, Maycon, Nizam e Thalyta estão longe dos milhões de seguidores que muitos ex-BBBs ganham graças ao programa.

Thalyta, aliás, virou chacota nas redes sociais por ter um número de seguidores considerado aquém do ideal para uma ex-BBB. "Falavam que eu era uma vergonha para minha mãe. Eu tinha crises de ansiedade quando pegava o celular. E, para piorar, nem fiquei rica."

Seguidores ganharam tanta importância dentro do jogo porque eles são uma espécie de capital social, diz João Finamor, professor da ESPM, a Escola Superior de Propaganda e Marketing. "As pessoas atrelam qualidade de produto à quantidade de pessoas que te acompanha. No caso do Big Brother, é uma chancela."

A última edição do BBB, no entanto, mostrou que participar do reality por si só não é uma garantia de sucesso nas redes. "Faltou estratégia de alguns participantes. Eles esperaram por um milagre da publicidade", afirma o professor.

Não à toa, passou a ser comum participantes contratarem profissionais para atualizar suas páginas nas redes sociais enquanto estão confinados. É uma forma de mobilizar a torcida, gerar engajamento e construir influência na internet.

Thalyta, porém, entrou na casa sem pensar nisso. "A minha assessoria era formada por uma amiga, minha mãe e Deus. Eu também não tinha gente para cuidar da minha rede social. Eu era aquele meme: apenas um sonho e uma calça rosa."

Prestes a encerrar de vez o contrato com a Globo, Maycon, o cozinheiro, espera atrair o faro de empresas da área da gastronomia. Ele não se preocupa com o fato de ter atacado a emissora em entrevistas —agora é carreira solo.

"Nunca pretendi conseguir uma vaga no programa da Ana Maria Braga", ele brinca. "A Globo está demitindo um monte de gente, tu acha que eles vão querer um zé-ninguém como eu?"

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