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Criador de 'Lost' imagina futuro racista e de violência na adaptação de 'Watchmen'

Trama da série se passa décadas após os eventos dos quadrinhos de Alan Moore e Dave Gibbons

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Nova York

Damon Lindelof, cocriador de “Lost”, tem uma relação de amor e ódio com os fãs. “Não sou masoquista, odeio apanhar”, afirma o roteirista. Mas não é o que parece. A partir deste domingo (20), Lindelof estará novamente na vitrine ao estrear a série “Watchmen”, espécie de sequência televisiva da HQ de Alan Moore e Dave Gibbons, considerada uma das obras mais importantes do gênero.

Atuando também como showrunner, o roteirista sabe que está mexendo em um vespeiro tão feroz quanto o seu criticado final para “Lost”.

“Projetos que me põem em posição de vulnerabilidade me atraem. Estamos em um momento da cultura no qual desejamos revisitar as coisas que amamos no passado”, explica Lindelof à Folha. “Não sei como quebrar esse ciclo, a não ser criando um ângulo original numa ideia nostálgica.”

E “Watchmen”, apesar de beber da obra de 1986 (adaptada para o cinema por Zack Snyder), produz trama nova e personagens novos. A série imagina o presente do mundo alternativo de Alan Moore, onde Robert Redford é presidente dos Estados Unidos há 27 anos.

Neste 2019, não há internet ou celulares, armas de fogo são raras e lulas caem do céu como chuva. A história segue a ex-policial de Regina King, que mantém as atividades como vigilante no Texas.

Ao lado de outros policiais, ela investiga uma morte associada ao ressurgimento de um grupo de supremacistas brancos que usa as ideias perturbadoras e as máscaras de Rorschach, um anti-herói dos quadrinhos originais morto há décadas. O mistério toca em diversos temas, como brutalidade policial e racismo.

“Os quadrinhos originais são bem politizados”, diz Lindelof, citando a Guerra Fria que enverniza a HQ.

“Qual seria o equivalente, em 2019, ao duelo nuclear entre EUA e União Soviética? Achei que seria raça e policiamento. O que faz de ‘Watchmen’ uma obra-prima é não se interessar em falar quem são os heróis e os vilões. É o estudo das instituições, da cultura e da política.”

O estudo começa a tomar formas brilhantes quando dois heróis dos gibis aparecem. 

O primeiro é Adrian Veidt (Jeremy Irons), o homem mais inteligente do planeta, dado como morto. A segunda é Laurie Blake (Jean Smart), que atua como agente do FBI.

O passado que foi criado pelos quadrinhos segue imutável e serve como mapa deste presente, mas não espere uma trama fácil. “Meu trabalho é honrar o nome ‘Watchmen’. Vejo a série como a filha do original.

Ela compartilha o DNA dos pais, mas cresceu para tornar-se uma pessoa diferente.”

A única certeza que Damon Lindelof tem é a de que nunca terá o aval de Alan Moore, criador da HQ e avesso às adaptações das suas obras. “Entendo que seria um sacrilégio adaptar as edições dos quadrinhos, mas não vejo nada de errado em imaginar aquele mundo 30 anos depois”, crê Lindelof. 

“Aceito que nunca terei a aprovação da pessoa que mais importa e que provavelmente deseja que eu morra. Dói, mas a boa notícia é que estou acostumado.”

Watchmen

  • Quando Dom., às 23h, na HBO e na HBO Go
  • Elenco Regina King, Jeremy Irons e Tim Blake Nelson
  • Produção EUA, 2019
  • Direção Damon Lindelof
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