Nenhum sistema vai nos calar, diz Fernanda Montenegro, no Municipal

Atriz defendeu o fim das reeleições sob fortes aplausos do público em evento em São Paulo

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São Paulo

Fernanda Montenegro, diante de um Theatro Municipal lotado, disse que “ninguém ou sistema nenhum vai nos calar” e defendeu o fim das reeleições sob aplausos do público. Sua participação no Festival Mário de Andrade representou a primeira aparição pública desde que sofreu ofensas de Roberto Alvim, diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, no fim de setembro.

De mãos dadas com o diretor do Teatro Oficina Zé Celso, que subiu ao palco no início do evento, Fernanda disse neste domingo (6) que são “sobreviventes maravilhosos”. “Estamos reunidos aqui em torno da liberdade de expressão.” 

Sem entrar em detalhes sobre o atual quadro político, a atriz acrescentou que “a corrupção foi institucionalizada e, por isso, não temos uma direita, nem um centro, nem uma esquerda”. E sugeriu, em seguida, acabar com a reeleição para “renovar a política”.

Fernanda Montenegro comenta pela primeira vez seu livro de memórias em evento no Theatro Municipal
Fernanda Montenegro comenta pela primeira vez seu livro de memórias em evento no Theatro Municipal - Bruno Santos/Folhapress

Há duas semanas, Roberto Alvim disse, nas redes sociais, que Fernanda era “sórdida” e que tinha “desprezo” por ela. O diretor da Funarte, apoiador de Bolsonaro e apontado pelo atual governo para o cargo que ocupa no órgão federal de cultura, reagia então a uma imagem da atriz, que posou para um ensaio da revista Quatro Cinco Um vestida como uma bruxa presa a uma fogueira com livros a seus pés. 

O público de cerca de mil pessoas que lotou a plateia do Municipal esperava ouvir uma reação da atriz aos ataques de Alvim, mas ela não tocou no assunto, dizendo apenas que “um livro virou um ato de resistência”.

O nome do dramaturgo nem sequer foi mencionado por Fernanda, que narrou histórias de sua vida e leu trechos de sua autobiografia recém-lançada pela Companhia das Letras, “Prólogo, Ato, Epílogo”.

Após começar contando parte da trajetória de seus avós, falou sobre os últimos anos da política no Brasil, sobre ditadura e afirmou que a dramaturgia e a literatura são atos de resistência. Ela ainda conversou com a jornalista Marta Góes, responsável por redigir a obra a partir de entrevistas com a atriz.

Logo depois dos ataques de Alvim, uma série de personalidades da classe artística e política, entre eles o ex-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) e o prefeito paulistano Bruno Covas (PSDB), saiu em defesa da atriz.

Covas chamou a fala de Alvim de “desrespeito” e escreveu nas redes sociais que a atriz é “um ícone da cultura nacional e deve ser respeitada e tratada com o valor que merece”. Já Ciro chamou Alvim de “vagabundo... medíocre, picareta” no Twitter.

O prefeito foi um dos que prestigiaram Fernanda no evento no Municipal, ao lado do secretário de Cultura de São Paulo, Alê Youseff. Além deles, estiveram por lá o jornalista e apresentador Pedro Bial, a diretora Daniela Thomas, a atriz Irene Ravache, o diretor do Sesc SP Danilo Santos de Miranda, o médico Drauzio Varella e a filha da atriz, Fernanda Torres —os dois últimos, colunistas da Folha.

 

A polêmica original resultou no encaminhamento de uma moção de repúdio às declarações do diretor da Funarte pela Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados. 

Previsto para começar às 16h de domingo (6), o bate-papo começou com 20 minutos de atraso com uma apresentação de Hugo Possolo, diretor artístico do Municipal. Ele explicou que o convite para a palestra já havia sido feito antes "de uma pessoa inescrupulosa falar coisas sobre a Fernanda”.

Ao primeiro anúncio do nome da atriz, o público, em sua maioria composto por idosos e universitários, já começou a bater palmas e a gritar. Alguns dos integrantes da plateia aguardavam desde 12h na fila para uma oportunidade de ver a grande dama do teatro.

Ela foi recebida por todos em pé, depois de as cortinas vermelhas do teatro se abrirem. A ovação continuou pelos dez minutos seguintes. “Deusa”, “maravilhosa”, “linda”, gritavam mulheres e homens na plateia. O público só se acalmou quando Fernanda se sentou para iniciar a leitura dramática de sua obra.

Prestes a completar 90 anos, Fernanda relembra na autobiografia sua trajetória de sete décadas no teatro, no cinema, na TV e, antes disso, no rádio. Narra, também, histórias de sua família. No livro, ela não aborda política hoje. Mas discorre sobre as Diretas Já, por exemplo, de que participou.

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