Depois de uma longa e premiada carreira no teatro, o autor recifense radicado em São Paulo Newton Moreno chega, enfim, ao cinema.
É algo para celebrar. Moreno é um dos principais dramaturgos brasileiros da atualidade, com textos que recriam o imaginário popular, com referências a Gilberto Freyre, Ariano Suassuna, entre outros.
Pode parecer, à primeira vista, que sua obra —no limite da fábula— se afasta de uma visão contemporânea da sociedade brasileira. Engano.
Como fica evidente em “Maria do Caritó”, Moreno vê o país de um modo particular, sem medo de referências do passado e de tradições rurais para reinterpretar o presente.
O mote do filme dirigido por João Paulo Jabur é a conquista da autonomia feminina. Idolatrada como santa, Caritó busca se desgarrar das amarras da família, da religião e da política.
É um papel na medida para Lilia Cabral, muito à vontade com os diálogos afiados do roteiro assinado por Moreno e José Carvalho. A atriz conjuga um humor delicado, com incursões no universo clown, e alguma melancolia.
A cena em que apresenta um pot-pourri com Wando e Anitta está entre os bons momentos da comédia. Outro trunfo do filme é o coronel ameaçador de Leopoldo Pacheco.
Longe de ser inesquecível, “Caritó” toma um caminho promissor, a trilha de um cinema brasileiro abertamente popular, sem vulgaridade. Que venham outros filmes assim.
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