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Cinema

'A Odisseia dos Tontos' usa humor para exorcizar crise da Argentina

A comédia tem um sarcasmo sofisticado, boas interpretações, ótimos diálogos e um roteiro bem amarrado

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A Odisseia dos Tontos

  • Quando Estreia nesta quinta (31)
  • Elenco Ricardo Darín, Chino Darín, Luis Brandoni e Rita Cortese
  • Produção Argentina/Espanha, 2019
  • Direção Sebastián Borensztein

“O que pode dar errado?”, se perguntam Fermín Perlassi, um ex-jogador de futebol de trajetória medíocre, sua mulher, Lídia, e o anarquista Antonio Fontana ante à ideia de iniciar um investimento de US$ 300 mil numa cooperativa em Alsina, na Argentina.

Naquela época, embora muitos já sentissem que a economia ia mal, havia argentinos que continuavam achando que a política que obrigava que um dólar valesse um peso duraria para sempre. Neste caso, juntar US$ 300 mil não parecia uma tarefa tão difícil.

Enquanto os três conversam, nesta cena de abertura, uma legenda surge na tela e explica em que época começa o filme —“Argentina, agosto de 2001”. Nas salas de cinema de Buenos Aires, essa cena faz com que muitos gargalhem, inclusive quem sentiu na pele os efeitos negativos do que aconteceu naquele tempo. Afinal, quatro meses depois dessa data, o país entraria na maior crise de sua história recente.

Esse é o pano de fundo da amarga comédia “A Odisseia dos Tontos”, do diretor Sebastián Borensztein. Nela, os amigos Fermín, Lídia, Fontana e um grupo de moradores de Alsina buscam recuperar a grana que haviam juntado para a empreitada, mas que havia ficado presa pelo “corralito”. Ou melhor, fora surrupiada por um dos tantos aproveitadores que surgiram.

Embora se refira a uma época dramática do país, na qual pessoas morreram por conta de acidentes, doenças e outras consequências da crise, a produção faz rir com as estratégias precárias que o grupo arma para recuperar o dinheiro.

A comédia tem um sarcasmo sofisticado, boas interpretações, ótimos diálogos e um roteiro bem amarrado. Além de divertir, propõe uma reflexão séria sobre os tempos atuais na Argentina, também vivendo hoje uma grave crise.

O filme é baseado num romance de Eduardo Sacheri, autor também do livro que deu origem a “O Segredo de Seus Olhos”.

Além de Darín pai, está no filme o Darín filho, e ambos interpretam pai e filho na família em que ocorre a pior das tragédias. Brandoni faz um anarquista de retumbante oratória política mas que na vida real se dedica apenas a trocar pneus de automóvel numa oficina que quase ninguém visita.

Ainda integra o elenco a veterana Rita Cortese, que faz uma empresária local, um papel que poderia ser melhor aproveitado devido a seu imenso talento cômico. E ainda o colombiano Andrés Parra, da série “El Patrón del Mal”, da Netflix.

“A Odisseia dos Tontos” tem os ingredientes para fazer sucesso internacional. Mas é talvez o filme mais argentino das produções argentinas recentes. Faz com que o público se lembre, com humor, daqueles dias dramáticos, enquanto sabe que, do lado de fora do cinema, a história se repete.

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