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Cinema

Edward Norton retoma film noir e deixa espectador perdido

Além de dirigir o longa, ator interpreta detetive com síndrome de Tourrette em 'Brooklyn: Sem Pai Nem Mãe'

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BROOKLYN: SEM PAI NEM MÃE

  • Quando Estreia nesta quinta ( 5)
  • Elenco Edward Norton, Gugu Mbatha-Raw e Alec Baldwin
  • Produção EUA, 2019
  • Direção Edward Norton

A boa notícia é que “Brooklyn: Sem Pai Nem Mãe” retoma um gênero clássico, o filme noir, e traz pessoas de carne e osso à cena e problemas de carne e osso também.

No mundo turvo do filme noir, movem-se detetives, políticos, gângsters, clubes de jazz, muquifos de vários tipos. E, para não fugir à regra clássica, o detetive Lionel Essrog (Edward Norton) depara-se com um problema em princípio não muito complicado: vingar a morte de seu chefe e protetor Frank (Bruce Willis).

À medida que se enfronha no assunto, no entanto, ele começa a se tornar um pantanal que envolve vários níveis da administração de Nova York e, sobretudo, a desapropriação de terrenos em locais onde se instalam os pobres para a construção de pontes na cidade.

Tramoias políticas são um clássico do gênero. O envolvimento dos pobres e e dos negros, nem tanto. Com isso, embora a ação se passe na virada dos anos 1940/50, ela adquire tons bem atuais: é, antes de tudo, o mundo dos despojados, os que têm lugar cada vez mais marginal na sociedade, que Edward Norton (diretor e roteirista do filme) toma por objeto.

Um outro clássico se intromete no filme: em obras dirigidas por atores o que não falta são colegas célebres dando uma força. Desta vez estão lá Alec Baldwin, Willem Dafoe, sem falar de Willis. Nada mau para começar. Eles dividem o estrelato com a bela Gugu Mbatha-Raw, a filha de um dono de boate negro assassinado a horas tantas, de quem Lionel se aproxima primeiro ternamente, e pois amorosamente.

Voltando ao princípio (filme noir dá também voltas e voltas): Lionel não é um superdetetive. Mesmo em sua agência é negligenciado pelos colegas, por conta da síndrome de Tourette que o vitima e o leva a um descontrole motor e verbal, e que faz seus colegas de escritório o tomarem por um “freak”.

Lionel só se mete nessa história por conta da fidelidade a seu protetor, Frank. Deseja saber quem o matou e por quê. O desenvolvimento da trama o leva a demonstrar mais sagacidade e coragem do que se poderia imaginar a princípio.

Mas o essencial vem, de certa forma, do passado: a turma do escritório de detetives vem toda de um orfanato, onde começa a ligação com Frank, mais velho que eles. A orfandade não é um dado secundário em tudo isso. Lionel é não apenas órfão como um solitário, devido ao seu mal. A pessoa com quem tem ligação essencial, Frank, é assassinada. Investigar o caso mostra-se uma maneira de, no fim das contas, refazer seu elo com o mundo. Um elo conflitivo, veremos.

Nessa ficção concebida originalmente pelo escritor Jonathan Lethem o espectador não se espante caso se veja um tanto perdido em meio a tantas tramas que se entranham em outras, num novelo aparentemente sem fim. Essa é outra característica clássica do gênero.

Alguns fatos servem para brecar o entusiasmo pelo filme. Primeiro, Norton parece, entre tantos fios (e atores) a puxar, nem sempre encontrar a ênfase correta à trama. Mesmo se descontarmos o fato de não ser um talento especial na criação de imagens, é preciso ter em conta que a síndrome de Tourette talvez sirva melhor a uma narrativa literária que à cinematográfica, onde a sucessão de tiques e desconexões verbais servem menos para caracterizar o personagem do que para introduzir um ruído na ação. O que não impede o filme de se situar bem longe do miserê da maior parte da produção americana recente.

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