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Edward Norton acelerou produção de filme por causa de eleição de Donald Trump

Adaptação do romance 'Brooklyn: Sem Pai Nem Mãe' aposta no cinema noir para narrar trama sobre corrupção e poder

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Lúcia Guimarães
Nova York

O premiado romance “Brooklyn: Sem Pai Nem Mãe” consome o ator Edward Norton desde o seu lançamento, há duas décadas. O livro tornou o autor Jonathan Lethem um membro ilustre da cena literária do bairro que ele trocou há dez anos pela Califórnia.

Norton comprou os direitos sobre a história do detetive Lionel Essrog, que sofre da síndrome de Tourette, e passou mais de uma década debruçado sobre o roteiro. O filme acaba de estrear nos Estados Unidos e tem estreia prevista no Brasil para 12 de dezembro.

Numa sessão recente em Manhattan, Norton, que dirigiu o longa e vive o protagonista, contou que teve a bênção de Lethem para transportar a história para a década de 1950. Ambos são fãs do gênero noir e, diz Norton, “Jonathan considera a trama original uma desculpa para o personagem, a experiência do romance é viajar na cabeça do Lionel”. 

O ator comparou o detetive a uma versão noir de Holden Caulfield, o protagonista de “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J. D. Salinger. “Você não se lembra de detalhes da trama do ‘Apanhador’, você se lembra dos pensamentos de Holden Caulfield,” diz. 

O filme ainda traz no elenco Willem Dafoe, Alec Baldwin, Cherry Jones e Bruce Willis, escolhidos por Norton por terem experiência no teatro. No cinema, a trama introduz novos personagens, como a de Gugu Mbatha-Raw, no papel de uma ativista negra que carrega um segredo e está no centro de uma disputa sobre a gentrificação no Harlem.

Alec Baldwin é Moses Randolph, inspirado no lendário e feroz Robert Moses, o planejador urbano que mais transformou Nova York no século 20, despejando milhares de famílias de baixa renda para tornar a cidade mais hospitaleira para o automóvel. 

Norton concluiu o roteiro em 2012, quando Donald Trump ainda morava na Trump Tower. O presidente americano é um empresário que já foi processado pelo governo federal por racismo, ao negar acesso a negros em seus prédios, nos anos 1970. E Alec Baldwin, o vilão do filme, costuma fazer o papel de Trump no programa “Saturday Night Live”.

Questionado se, ao longo da produção, a realidade começou a morder o calcanhar da ficção imaginada por ele, Norton não titubeia. “Há elementos que eu não levava em conta em 2012. Obama ia tomar posse no segundo mandato e eu pensava que parte da história do filme está no espelho retrovisor do país. Será que vamos entrar na utopia pós-racial?”

Norton lembra que, depois da posse de Trump, um executivo da Warner telefonou e disse que estava na hora de apressar a produção.

O filme abre com uma balada composta por Thom Yorke, do Radiohead, e tem uma trilha sonora assinada pelo britânico Daniel Pemberton. As cenas que se passam num clube de jazz contaram com arranjos de Wynton Marsalis. A Nova York de 1957 é fotografada luxuosamente por Dick Pope.

Norton explica que pesquisou os tiques vocais e gestuais do detetive com Tourette e descobriu que os sintomas se apresentam de formas variadas em diferentes portadores da síndrome. A performance do ator nunca escorrega para a caricatura, mesmo quando produz momentos cômicos.

A trama  de “Brooklyn” na tela provoca a comparação inevitável com “Chinatown”, filme de Roman Polanski de 1974 sobre corrupção em Los Angeles. 

Norton não foge do assunto. “Não é coincidência que uma narrativa negra, sobre a ensolarada Califórnia, uma história de roubo e incesto, apareça num momento quando o Vietnã desmorona sobre o país e em pleno escândalo Watergate. O país vê aumentar o fosso entre o que pensa ser suas ações.”

Norton sugere que os Estados Unidos vivem um momento semelhante. “E é uma parte saudável da tradição do gênero noir,” continua. “Quando não é sobre o detetive clichê, é sobre aquela voz americana que diz ‘vamos no piloto automático por um tempo, porque confiamos no sistema’. Mas não tente nos atacar, porque vamos fazer barulho.”

“Brooklyn: Sem Pai Nem Mãe” estreou na semana em que o Congresso americano votou o começo do inquérito de impeachment de Trump.

Brooklyn: Sem Pai Nem Mãe

  • Quando Estreia em 12 de dezembro
  • Elenco Edward Norton, Gugu Mbatha-Raw e Alec Baldwin
  • Produção EUA, 2019
  • Direção Edward Norton
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